A preservação de florestas surge como o pilar central das discussões da Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP30, que se inicia na próxima semana em Belém, capital do Pará. Com o ecossistema amazônico servindo como cenário e principal objeto de debate, o evento coloca em evidência a urgência de proteger biomas vitais. A localização inédita da conferência, no coração da maior floresta tropical do mundo, oferece aos participantes um contato direto com essa realidade, sublinhando sua importância crítica não apenas para a regulação climática global, mas também para a vasta biodiversidade que abriga e para a sobrevivência de povos indígenas e comunidades tradicionais.
Conforme explica Anna Carcamo, especialista em políticas climáticas do Greenpeace Brasil, a Amazônia estará em evidência por múltiplos fatores. A expectativa é que o evento catalise ações concretas, aproveitando a oportunidade única de debater o clima dentro do bioma mais crucial para o seu equilíbrio.
A COP30 busca abordagem integrada para florestas
Apesar do consenso global sobre a importância das matas, especialistas apontam uma falha histórica nas negociações climáticas: a fragmentação. Anna Carcamo explica que o tema vital das florestas raramente recebe a atenção unificada que merece, sendo diluído em diferentes frentes de negociação.
“As florestas têm um papel central na ação climática tanto para medidas de mitigação quanto de adaptação, porém continuam sendo tratadas de forma fragmentada em várias salas de negociação, sem um espaço específico dedicado a isso”, avalia Carcamo.
Segundo a especialista, a realização da COP30 na Amazônia não é apenas simbólica; é uma oportunidade pragmática para corrigir esse curso. “A COP30, a primeira a ser realizada na Amazônia, traz uma grande oportunidade para abordar o tema de forma efetiva e integrada”, afirma. O objetivo, segundo ela, deve ser a adoção de um plano claro para a “implementação da meta de desmatamento e devastação integral zero até 2030”. Além disso, Carcamo destaca a necessidade de ampliar as sinergias entre as convenções do clima e da biodiversidade, tratando os dois temas como indissociáveis.
Desafios à preservação de florestas
Não é novidade que a preservação de florestas é essencial para a saúde do planeta. Elas funcionam como vastos repositórios de biodiversidade, regulam os ciclos hídricos e climáticos e protegem o solo contra a erosão. Contudo, a pressão sobre esses ecossistemas, especialmente na Amazônia, atingiu um ponto crítico.
Anna Carcamo alerta para um cenário de alto risco: o desmatamento contínuo pode não apenas levar à extinção de inúmeras espécies, mas também empurrar o bioma para um “ponto de não retorno”, resultando na sua savanização. Este fenômeno, a transformação da floresta tropical em uma savana mais seca, teria repercussões climáticas severas em escala global.
Diante disso, diversos compromissos nacionais e internacionais já foram firmados para reduzir o desmatamento e a degradação. No entanto, os desafios para a proteção efetiva são complexos e variam conforme a realidade de cada país.
“Grande parte do desmatamento está ligado a avanços da agricultura e da pecuária, a conflitos territoriais e falta de titulação e destinação de terras, além de interesses econômicos como garimpo ilegal e outras atividades ilegais”, detalha a especialista do Greenpeace.
No caso específico do Brasil, Carcamo aponta para um paradoxo que poderia ser a chave para a solução. O país não precisaria derrubar mais nenhuma árvore para expandir sua produção. “No caso do Brasil, já existem milhões de hectares de áreas degradadas que são o suficiente para que atividades econômicas ocorram sem ser necessário o desmatamento da vegetação nativa”, explica. A questão, portanto, seria de manejo, recuperação e uso inteligente da terra.
O sucesso da moratória da soja e a força da agrofloresta
A prova de que é possível conciliar produção e preservação já existe e é reconhecida internacionalmente. Anna Carcamo cita a Moratória da Soja como um exemplo de sucesso no combate ao desmatamento, que permitiu o desenvolvimento socioeconômico do setor.
“Trata-se de um acordo multisetorial em que grandes compradores se comprometeram a não adquirir soja proveniente de fazendas com áreas desmatadas na Amazônia após 2008”, relembra.
Nas últimas duas décadas, esse pacto tornou-se um dos principais instrumentos de proteção ambiental no bioma amazônico. “Reconhecida de forma global, conciliou a expansão agrícola em larga escala com a sustentabilidade ambiental”, complementa Carcamo.
Os números confirmam a eficácia da medida. Segundo a pesquisadora, entre 2009 e 2022, os municípios monitorados pelo acordo registraram uma impressionante redução de quase 70% no desmatamento. Notavelmente, isso ocorreu ao mesmo tempo em que a área plantada de soja nesses mesmos municípios cresceu 344%. Na safra mais recente (2022-2023), menos de 4% da soja monitorada estava fora da conformidade.
Outra ação relevante é a recuperação de áreas degradadas. Isso pode ser feito tanto por meio da restauração ecológica quanto por sistemas agroflorestais (SAFs), que integram produção de alimentos e espécies nativas.
Carcamo destaca que muitas dessas iniciativas de sucesso são lideradas por povos indígenas e comunidades tradicionais. Nesses casos, o foco transcende o lucro imediato, voltando-se para o bem-estar coletivo.
“Um exemplo de sucesso relacionado a agroflorestas é o caso do povo Apurinã, na terra indígena Caititu, no Amazonas, que desde 2014 transforma áreas degradadas em sistemas agroflorestais”, aponta. Para que esses modelos se multipliquem, a especialista é enfática: “É preciso promover o financiamento direto às soluções comunitárias e apoiar o desenvolvimento de capacidades e iniciativas locais.”
Enquanto as negociações oficiais não começam, os preparativos estão em fase final. Na próxima quinta (6) e sexta-feira (7), ocorrerá a Cúpula de Líderes da COP30. Este encontro preparatório reunirá Chefes de Estado e de Governo para definir as prioridades globais que nortearão as negociações em Belém, onde a proteção das florestas será a protagonista.
*Com informações da Agência Brasil
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