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Universidade Federal do Amazonas realiza primeira banca de doutorado composta só por indígenas

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Defesa marca um marco histórico para epistemologias originárias na academia

A banca indígena ganhou um espaço histórico na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), que realizou a primeira defesa de doutorado no Brasil composta exclusivamente por pesquisadores indígenas. A iniciativa representa um avanço na valorização de saberes tradicionais no ambiente acadêmico, reconhecendo a produção intelectual dos povos originários como ciência legítima.

A tese defendida foi de Jaime Moura Fernandes Diakara, da etnia Dessana, integrante do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFAM. O trabalho, apresentado em formato híbrido, foi intitulado Pamüse: a força do sopro e da saliva entre os Dessana Wahri Dihputiro Porã no Alto Rio Negro. O estudo analisa elementos espirituais, sociais e simbólicos da cultura do povo Dessana, especialmente no contexto ritualístico do caxiri.

Banca formada por representantes de cinco povos da Amazônia

A banca indígena foi composta por pesquisadores de cinco etnias diferentes, todos com trajetória acadêmica consolidada, reforçando o protagonismo indígena na produção de conhecimento científico. Integraram o grupo:

  • João Paulo Barreto, do povo Tukano, que presidiu a banca

  • João Rivelino Barreto, também Tukano

  • Sílvio S. Barreto, do povo Baré

  • Justino S. Rezende, do povo Tuiuka

  • Rosilene Fonseca, do povo Piratapuya

Além da representatividade, a diversidade das etnias na avaliação da tese demonstra a amplitude da experiência intelectual indígena na Amazônia, que abrange cosmologias distintas e formas próprias de interpretar o mundo.

Pesquisa destaca a relação entre corpo, ancestralidade e os rituais do caxiri

No trabalho apresentado, Jaime Diakara investiga a cosmologia Dessana, destacando a influência ritual do sopro do kumu, especialista tradicional responsável pela condução de cerimônias, e da saliva feminina no preparo do caxiri. A bebida fermentada ocupa papel central em celebrações, encontros comunitários e práticas espirituais no Alto Rio Negro.

A pesquisa discute a percepção do corpo da mulher como microcosmo e fonte de vida, atribuindo sentido simbólico aos utensílios e às etapas da produção da bebida. O caxiri aparece como elemento de conexão entre corpo, memória e espiritualidade, funcionando como ponte entre o presente e as tradições ancestrais.

O pesquisador também registra mudanças contemporâneas nos modos de produção e consumo do caxiri, como a substituição de utensílios e a introdução do açúcar no processo de fermentação. Para os anciãos, essas alterações podem afetar os efeitos sociais e simbólicos da bebida. Mesmo assim, o estudo aponta que o significado cultural permanece firme, reforçando a continuidade da identidade e da resistência dos povos do Rio Negro.

Conquista acadêmica fortalece o protagonismo indígena

A realização desta banca indígena não representa apenas um avanço acadêmico. O momento é considerado um marco na luta pela autonomia científica dos povos originários, que historicamente foram tratados apenas como objeto de pesquisa. Agora, assumem o papel de autores, orientadores, avaliadores e formuladores da produção científica.

Especialistas avaliam que conquistas como essa incentivam o ingresso e a permanência de mais estudantes indígenas em programas de pós-graduação. Também demonstram que universidades localizadas no coração da Amazônia devem refletir de forma concreta a diversidade cultural presente na região em que atuam.

Além de fortalecer a pesquisa intercultural, o acontecimento aponta para processos de reparação histórica e para a descolonização do espaço acadêmico, que passa a reconhecer a legitimidade de múltiplos saberes e epistemologias.

A expectativa é que outras instituições brasileiras sigam o exemplo, ampliando o protagonismo indígena no ensino superior e garantindo que suas vozes ocupem lugares de liderança na construção do conhecimento do país.

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