Investigações apontam que Carlos Lopes liderava organização criminosa estruturada em três núcleos para desviar milhões de aposentados.
O presidente da Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais), Carlos Roberto Ferreira Lopes, passou a ser considerado foragido da Justiça pela Polícia Federal. A mudança de status ocorreu após o cumprimento de mandados da Operação “Sem Desconto”, deflagrada para desarticular um esquema bilionário de descontos indevidos em folha de pagamento de beneficiários do INSS. Enquanto outros alvos da operação foram detidos ou conduzidos para prestar esclarecimentos, o paradeiro de Lopes permanece incerto, intensificando as buscas das autoridades.
A defesa de Carlos Lopes contesta a classificação de “foragido”. Em comunicados oficiais, os advogados alegam que o presidente da Conafer se encontra em uma viagem pré-agendada a uma região de difícil acesso, onde a comunicação é precária. Segundo a nota da defesa, não haveria intenção de fuga, e Lopes estaria disposto a se apresentar às autoridades assim que retornasse de seu deslocamento. Contudo, para a Polícia Federal, a não localização imediata após a expedição do mandado de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) configura a condição de evasão.
A estrutura do esquema liderado pelo presidente da Conafer
O inquérito policial revela detalhes alarmantes sobre o funcionamento interno da entidade. Longe de atuar apenas como uma representante de classe, a Conafer teria sido utilizada como fachada para uma complexa engenharia financeira ilícita. O foco central do golpe consistia na filiação em massa de idosos e pensionistas sem o consentimento destes. Uma vez inseridos no sistema como “sócios”, valores mensais eram descontados diretamente de seus benefícios previdenciários.
Embora os valores individuais pudessem parecer pequenos, o volume gigantesco de “filiados” gerou um montante desviado que ultrapassa a casa das centenas de milhões de reais. Para operacionalizar e proteger essa fraude, a organização criminosa teria se estruturado de maneira empresarial, dividida em núcleos específicos de atuação.
A Polícia Federal identificou três frentes principais de operação sob a suposta liderança do presidente da Conafer:
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Núcleo de Comando: Este setor seria chefiado diretamente por Carlos Lopes. As investigações apontam que cabia a ele a tomada de decisões estratégicas, a definição das metas de arrecadação fraudulenta e a coordenação geral das atividades ilícitas da confederação.
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Núcleo Financeiro: Responsável pela gestão e lavagem do dinheiro obtido ilegalmente. Os operadores deste núcleo utilizavam empresas de fachada e laranjas para ocultar a origem dos recursos e distribuir os lucros entre os participantes do esquema, dificultando o rastreamento bancário.
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Núcleo Político: Considerado fundamental para a longevidade do golpe, este grupo era composto por lobistas e agentes públicos corrompidos. A função primordial era blindar a Conafer politicamente, garantindo que o INSS mantivesse o Acordo de Cooperação Técnica ativo, mesmo diante de crescentes denúncias e reclamações dos aposentados. Há indícios fortes de pagamentos de propina a ex-diretores da autarquia para assegurar essa “vista grossa” institucional.
Impacto nas vítimas e desdobramentos
A Operação “Sem Desconto” expôs a vulnerabilidade dos dados dos beneficiários do INSS. Milhares de aposentados, muitos em situação de vulnerabilidade financeira, viram seus rendimentos serem corroídos por taxas associativas que nunca autorizaram. O esquema não apenas lesou o patrimônio individual de cidadãos por todo o país, mas também comprometeu a credibilidade dos sistemas de controle da previdência social.
Enquanto as buscas pelo presidente da Conafer continuam, a Polícia Federal segue analisando o material apreendido na sede da entidade e nas residências dos investigados. Computadores, documentos e celulares confiscados devem fornecer novas provas sobre a extensão da rede de corrupção e identificar outros beneficiários dos recursos desviados. A expectativa é que o desmantelamento dos núcleos financeiro e político interrompa o fluxo de desvios e permita, futuramente, o ressarcimento aos cofres públicos e às vítimas da fraude.
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