Uma onda de desinformação voltou a circular nas redes sociais após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusar o Brasil de desmatar áreas da Amazônia para erguer uma rodovia destinada à COP30, em Belém. A alegação, amplificada por veículos e influenciadores conservadores, afirma que uma estrada de quatro faixas teria destruído a floresta “para ambientalistas”.
“Eles devastaram a floresta tropical no Brasil para construir uma rodovia de quatro faixas para ambientalistas. Isso virou um grande escândalo!”, escreveu Trump em sua rede Truth Social ao compartilhar conteúdo da Fox News.
A declaração se referia à construção da Avenida Liberdade, obra viária em Belém que se tornou alvo de polêmica. Embora o projeto exista e tenha impacto ambiental, a relação direta com a COP30 e a narrativa de que ele teria sido criado para o evento não se sustenta.
Checagem: COP30 não originou o projeto
A verificação feita pela DW mostra que a acusação é enganosa. A Avenida Liberdade:
-
não foi criada para a COP30,
-
não está concluída,
-
e seu planejamento é anterior ao anúncio da conferência da ONU.
Segundo a Secretaria Extraordinária para a COP30, a obra não integra as 33 intervenções oficiais previstas para o evento. O cronograma inicial previa conclusão em outubro de 2025, mas apenas 80% dos serviços estavam concluídos duas semanas antes da conferência. A nova entrega estimada é para o primeiro trimestre de 2026.

Um projeto antigo que ganhou força com o evento
Belém convive há anos com sobrecarga na BR-316, o principal acesso à região metropolitana. A alternativa de uma via paralela é discutida há mais de uma década.
-
Debates formais começaram em 2017 com o governador Helder Barbalho e a prefeitura.
-
Em 2020, o governo do Pará buscou autorização da Assembleia Legislativa para avançar.
-
A audiência pública que antecede o licenciamento ocorreu em dezembro de 2023, meses após Belém ser confirmada como sede da COP30.
Para especialistas, como a professora da Universidade Federal do Pará Ana Claudia Cardoso, ouvido pela Reuters:
“Já se falava deste projeto há mais de 20 anos, mas havia muita resistência. A necessidade de preparar a cidade para um megaevento acaba dando a justificativa necessária”.
Impacto ambiental existe, mas não nasceu com a COP30
O traçado da avenida corta a Área de Proteção Ambiental (APA) da Região Metropolitana de Belém, que inclui Belém e Ananindeua. Por legislação, a APA deve proteger a biodiversidade e ordenar o uso dos recursos naturais.
O governo do Pará argumenta que o trecho escolhido acompanha uma linha de transmissão elétrica da Eletronorte, onde a vegetação já havia sido parcialmente removida:
“A ausência de necessidade de desapropriação e o acompanhamento do linhão da Eletronorte aceleram a obra e reduzem o impacto ambiental, evitando avanços sobre áreas de proteção ambiental”, afirmou o governador Helder Barbalho.
Imagens de satélite conferidas pela DW mostram que o trajeto coincide com a faixa de energia citada.
Ainda assim, o próprio projeto aponta riscos à fauna, e comunidades próximas manifestam preocupações com ruído, poluição e efeitos sobre o Parque do Utinga.
Comunidades protestam e denunciam falhas no processo
Apesar das argumentações oficiais, o empreendimento tem enfrentado resistência local. Em 2024, a obra chegou a ser paralisada por dois dias após protestos de moradores que cobravam consulta prévia, procedimento obrigatório em casos de impacto relevante.
Em julho, extrativistas voltaram a bloquear a construção alegando que indenizações e condicionantes ambientais não foram cumpridas.
“Enxergo esse empreendimento para nós como uma catástrofe ambiental nos aspectos material, moral e também espiritual (…). Vamos sofrer com esse impacto pelo resto da vida”, disse ao G1 Danielson Costa, da comunidade Nossa Senhora dos Navegantes.
Por que a controvérsia se intensificou?
A primeira matéria a relacionar diretamente a Avenida Liberdade à COP30 foi publicada pela BBC. Após a repercussão, uma nota do governo do Pará sobre obras para o evento foi editada e deixou de mencionar a avenida, mudança identificada pela própria BBC.
O governo paraense se recusou a comentar as alterações à DW.
*Com informações do DW
Leia mais:
Amazonas defende políticas integradas na COP30
Marcha Global Indígena pressiona COP30 por direitos
Indígenas da Amazônia pedem reconhecimento de territórios na COP30
Siga nosso perfil no Instagram, Tiktok e curta nossa página no Facebook
📲Quer receber notícias direto no celular? Entre no nosso grupo oficial no WhatsApp e receba as principais notícias em tempo real. Clique aqui.

