A megaoperação no Rio de Janeiro, realizada na semana passada nos complexos do Alemão e da Penha, continua a gerar intenso debate político e repercussão nacional. A ação, que resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais, tornou-se o centro de uma forte divergência entre o Governo Federal e o Governo do Rio de Janeiro.
Nesta terça-feira (4), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou duramente a operação, rebatendo diretamente a avaliação do governador Cláudio Castro (PL), que a havia classificado como um “sucesso”.
Em entrevista a agências internacionais em Belém (PA), onde participa de eventos que antecedem a cúpula climática da ONU (COP-30), Lula foi categórico em sua avaliação.
“O dado concreto é que a operação, do ponto de vista da quantidade de mortes, a pessoa pode considerar um sucesso, mas, do ponto de vista da ação do Estado, ela foi desastrosa”, afirmou o presidente.
Lula também expressou ceticismo em relação à versão oficial dos fatos, defendendo a necessidade de um inquérito mais profundo e independente. “É preciso verificar em que condições ela se deu, porque até agora temos versão contada pela polícia e governo do Estado”, disse ele.
Lula pede investigação autônoma e critica “ordem de matança”
Aprofundando suas críticas, o presidente defendeu uma investigação autônoma sobre as circunstâncias das mortes ocorridas durante a megaoperação. Lula sugeriu que a apuração conte com a participação de legistas da Polícia Federal (PF), visando garantir maior isenção e clareza sobre os eventos.
O ponto mais contundente da fala presidencial foi a distinção entre o objetivo legal da operação e seu resultado letal. “A decisão do juiz era ordem de prisão, não tinha ordem de matança, e houve matança”, destacou Lula.
A declaração do presidente sinaliza uma preocupação com a possibilidade de execuções sumárias e o uso excessivo da força, levantando dúvidas sobre o cumprimento dos mandados judiciais e o respeito aos direitos humanos durante a ação policial.
Pesquisas revelam apoio popular à megaoperação no Rio
Em um forte contraste com a posição do presidente, levantamentos de opinião pública divulgados nos últimos dias indicam que a maioria da população, tanto no Rio de Janeiro quanto no Brasil, aprovou a ação policial.
Uma pesquisa Datafolha, divulgada no sábado (1º), ouviu 626 eleitores na cidade do Rio de Janeiro e na região metropolitana. Os resultados mostraram que 57% dos entrevistados avaliaram a megaoperação como um sucesso. Desses, 38% consideram a ação bem-sucedida de forma integral, enquanto 18% deram aprovação parcial. Outros 39% discordaram dessa avaliação. A pesquisa foi realizada entre quinta (30) e sexta-feira (31), com margem de erro de quatro pontos percentuais.
O sentimento de aprovação não se restringiu ao Rio. Uma pesquisa AtlasIntel, divulgada na sexta-feira (31), mostrou que a maioria da população brasileira foi favorável à megaoperação. Segundo o levantamento, 55,2% dos brasileiros aprovam a ação, enquanto 42,3% a desaprovam.
O abismo ideológico na avaliação da operação
Para entender a fundo a divisão de opiniões, a pesquisa Genial Quaest, divulgada no domingo (2), detalhou o perfil ideológico dos que aprovam e desaprovam a ação. O estudo revelou que os eleitores de esquerda são o único grupo que, majoritariamente, desaprova a megaoperação.
De acordo com a Quaest, 59% dos eleitores de esquerda que se declaram “lulistas” desaprovam a ação. Entre os eleitores de esquerda “não-lulistas”, o índice de desaprovação é ainda maior, chegando a 70%.
A percepção se inverte completamente nos outros segmentos do eleitorado. A megaoperação, que teria tido como principal alvo o combate ao Comando Vermelho, foi aprovada por:
- 61% dos eleitores que se dizem independentes;
- 92% dos que se identificam como de direita não-bolsonarista;
- 93% dos eleitores bolsonaristas.
Esses números expõem um profundo abismo ideológico na percepção sobre segurança pública no Brasil, onde eleitores à direita demonstram apoio quase unânime a ações de confronto direto, mesmo com alta letalidade.
Governo Federal propõe PEC e “Lei Antifacção”
Apesar das críticas à operação específica, Lula também aproveitou a entrevista para defender as iniciativas do Governo Federal na área de segurança. Ele mencionou a PEC da Segurança Pública enviada ao Congresso, cujo objetivo, segundo ele, é permitir que a União auxilie os Estados no combate ao crime organizado sem ferir o pacto federativo.
“Mandamos PEC ao Congresso para que a gente possa definir como a União pode participar junto aos Estados sem interferir na autonomia, porque tem sempre uma celeuma que a União não pode se meter”, explicou.
O presidente demonstrou otimismo com a tramitação da proposta, afirmando: “Possivelmente ela será votada nesta semana ainda. Quando essa PEC estiver aprovada, a gente vai ter mais facilidade”.
Lula também mencionou a chamada “Lei Antifacção” e concluiu defendendo um aumento substancial nos investimentos em inteligência policial. Para o presidente, o combate eficaz ao crime organizado se faz com investigação e tecnologia, e não apenas com operações de confronto que resultam em “matança”.
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