Em reunião marcada por embates políticos, comissão avança sobre governadores e banqueiros, mas rejeita requerimentos que miravam o filho do presidente Lula e o indicado ao STF
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Instituto Nacional do Seguro Social (CPMI do INSS) viveu um dia de intensas articulações e decisões estratégicas nesta quinta-feira (4). Em uma sessão que expôs a polarização entre governo e oposição, o colegiado aprovou a convocação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do dono do Banco Master, Daniel Bueno Vorcaro. Em contrapartida, a maioria governista conseguiu rejeitar os pedidos para ouvir Fábio Luís Lula da Silva, o “Lulinha”, e o advogado-geral da União, Jorge Messias.
A reunião, a última do ano antes do recesso, analisou 181 requerimentos e evidenciou o foco da comissão em investigar irregularidades na oferta de empréstimos consignados para aposentados e pensionistas, ao mesmo tempo em que protege figuras centrais ligadas ao Palácio do Planalto.
CPMI do INSS: O cerco a Romeu Zema e à “Zema Financeira”
A convocação de Romeu Zema foi um dos pontos de maior tensão. O requerimento, apresentado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG), baseia-se na suspeita de que a Zema Crédito, Financiamento e Investimento S.A. teria sido beneficiada pela Medida Provisória 1.106 de 2022. A legislação permitiu a concessão de crédito consignado a beneficiários do Auxílio Brasil (atual Bolsa Família), com descontos de até 40% direto na fonte.
“A Zema Financeira foi uma das poucas instituições autorizadas pelo Banco Central a oferecer a linha de crédito”, argumentou Correia. O deputado rebateu a defesa do governador, destacando que, embora Zema tenha deixado a administração da empresa em 2018 para assumir o governo, ele e sua família ainda detêm a totalidade das ações. “Ele ainda mantém 16,41% das ações. O pai dele, Ricardo Zema, 51%… Se vocês somarem, 100% da família Zema”, detalhou o parlamentar.
Em nota enviada à comissão, a defesa de Zema classificou a convocação como desnecessária, afirmando que o governador “absolutamente nada pode esclarecer acerca da atuação da instituição”. A oposição reagiu energicamente. O senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição, criticou a manobra: “Aí está uma ação fora do escopo, claramente com viés político. Não há uma prova, não há um vínculo… apenas uma vontade de se fazer a política no estado”.
Diferente de um convite, a convocação aprovada obriga o governador a comparecer, o que gerou lamentos entre aliados, como a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), que ressaltou a disposição prévia de Zema em colaborar voluntariamente.
Banco Master e a mira nos banqueiros
Outro alvo central foi Daniel Bueno Vorcaro, dono do Banco Master. Além da convocação, a CPMI aprovou a quebra dos seus sigilos bancário, fiscal e telemático. A instituição financeira acumula um alto índice de reclamações na Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) sobre consignados indevidos.
O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), foi enfático: “[A convocação] é necessária para prestar esclarecimentos acerca da atuação da instituição na oferta de produtos financeiros a aposentados e pensionistas… que possam justificar o elevado número de reclamações”. Vorcaro já havia sido detido na Operação Compliance Zero da Polícia Federal, investigado por fraudes que podem somar R$ 12 bilhões, embora tenha sido liberado posteriormente.
A comissão também aprovou a convocação de dirigentes dos bancos Daycoval, Pan, Agibank e BMG. No entanto, em um movimento criticado pelo senador Izalci Lucas (PL-DF), foram rejeitados pedidos para ouvir representantes do Santander, C6 e Crefisa. “É inadmissível querer blindar qualquer banco aqui. Chama todo mundo que está envolvido”, protestou Izalci, citando problemas com a Crefisa e o PicPay.
A blindagem de Lulinha e Jorge Messias
Enquanto avançava sobre o setor financeiro e a oposição, a base governista atuou para proteger aliados. Por 19 votos a 12, foi rejeitada a convocação de Fábio Luís Lula da Silva. A oposição, liderada pelo senador Sergio Moro (União-PR), tentava vincular Lulinha a um suposto esquema de mesada pago por Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.
“A fundada suspeita de que no centro dessas articulações criminosas se encontra… o filho do Presidente Lula”, disparou Moro. O líder do governo, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), desafiou a apresentação de provas concretas, classificando o pedido como perseguição política sem nexo com a CPMI.
Da mesma forma, foram rejeitados sete requerimentos para ouvir Jorge Messias, atual AGU e indicado ao STF. A oposição questionava a seletividade da Advocacia-Geral da União em investigações contra entidades parceiras do INSS, alegando que sindicatos ligados a familiares de Lula foram poupados. A senadora Eliziane Gama (PDT-MA) defendeu Messias, citando sua “reputação ilibada” e o trabalho de ressarcimento aos cofres públicos.
Próximos passos
O presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), informou que já busca assinaturas para prorrogar os trabalhos da CPMI, cujo prazo atual expira em março de 2026. O ministro da Previdência, Wolney Queiroz, teve sua convocação retirada de pauta mediante acordo para comparecer após o recesso.
O cenário desenhado nesta quinta-feira reforça o caráter dual da CPMI: uma ferramenta técnica de investigação sobre fraudes previdenciárias, mas também um palco de disputas políticas acirradas visando as próximas eleições e a proteção de capitais políticos.
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