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Serra do Divisor abriga um cemitério de máquinas escondido na Amazônia

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Um capítulo esquecido da história do petróleo brasileiro repousa entre a biodiversidade e as paisagens intocadas do extremo oeste do Acre

No extremo oeste do estado do Acre, onde a densa vegetação se encontra com formações geológicas únicas, localiza-se a Serra do Divisor. Considerada uma das áreas mais ricas em biodiversidade do planeta, a região abriga um segredo histórico que contrasta com sua natureza exuberante. Em meio a rios, cavernas e uma floresta praticamente contínua, repousa um cenário inusitado: um “cemitério de máquinas” abandonado há quase um século.

A Serra do Divisor é o palco de uma narrativa que remonta a 1938, durante o Estado Novo. Naquela época, o recém-criado Conselho Nacional do Petróleo iniciou uma ambiciosa expedição para transformar aquela selva remota em um polo de extração de combustíveis fósseis. A empreitada, embora não tenha prosperado comercialmente, deixou cicatrizes físicas na paisagem e memórias que hoje atraem exploradores em busca de histórias pouco conhecidas na Amazônia.

Um santuário de biodiversidade e mistério

O que torna a Serra do Divisor tão singular não é apenas o seu passado industrial frustrado, mas o ambiente onde ele se insere. A região do rio Moa é marcada por uma navegação lenta e contemplativa, onde a vegetação se fecha sobre as águas, criando a sensação de que o tempo parou. É um refúgio que preservou formas de vida e paisagens que sofreram poucas alterações nas últimas décadas.

Foi neste cenário de isolamento geográfico que técnicos, operários e engenheiros desembarcaram na década de 1930 com um objetivo claro: encontrar petróleo em plena Amazônia. O projeto marcou uma das primeiras iniciativas organizadas do Brasil na busca pela autossuficiência energética, muito antes das grandes descobertas petrolíferas em outras partes do território nacional.

O curioso “Buraco da Central” na Serra do Divisor

A caminho das áreas mais profundas da mata, a expedição histórica deixou para trás o que hoje é conhecido como o “buraco da central”. Trata-se de um poço artificial com cerca de 700 metros de profundidade, perfurado pela equipe original. No entanto, em vez do cobiçado ouro negro, o que jorra do local é uma água morna, cristalina e rica em minerais.

A pressão da água neste ponto da Serra do Divisor é tão intensa que impede que banhistas afundem facilmente, proporcionando uma experiência sensorial única. Moradores locais e visitantes atribuem à fonte propriedades terapêuticas, ideais para o relaxamento do corpo e cuidados com a pele, transformando o antigo poço de prospecção em um atrativo turístico acidental.

Rastros de uma expedição na selva

Para alcançar os pontos mais remotos onde a história se esconde, é necessário seguir pelo rio Moa até onde a navegabilidade permite e, posteriormente, adentrar a mata em terreno acidentado. A floresta, apesar de sua força regenerativa, ainda revela as pistas do passado industrial.

Exploradores encontram trechos de uma antiga estrada aberta em 1938, hoje retomada pela vegetação, mas ainda visível através de sulcos profundos no solo. Essas marcas são testemunhas do tráfego de tratores pesados e do esforço hercúleo envolvido no transporte de maquinário para um local tão inacessível. Restos de pontes de madeira e metal, cobertos por musgo e raízes, lembram como a natureza, lenta e implacavelmente, reivindica seu espaço de volta.

O cemitério de máquinas: metal contra a natureza

O ponto culminante dessa jornada histórica é a chegada ao chamado “cemitério de máquinas”. É ali, no coração da Serra do Divisor, que o visitante se depara com uma verdadeira miniatura de zona industrial engolida pela floresta. Caldeiras gigantes, outrora usadas para gerar energia e pressão, repousam enferrujadas sob camadas de folhas.

O cenário é composto por canos e tubulações espalhados pelo chão, indicando os antigos sistemas de circulação de água e vapor que alimentavam as sondas. Estruturas metálicas, agora retorcidas e deformadas pela ação do tempo e do clima amazônico, assemelham-se a esculturas involuntárias. O som ensurdecedor das máquinas de 1930 deu lugar ao canto dos pássaros e ao fluxo constante dos rios, criando uma atmosfera de contemplação sobre a transitoriedade dos empreendimentos humanos diante da força da natureza.

A Caverna do Edson e o contraste geológico

Além do maquinário, o roteiro na região inclui a visita à Caverna do Edson. Esta formação geológica é considerada rara para o tipo de relevo predominante no Acre. Em seu interior, o ambiente se transforma: a umidade aumenta, a temperatura cai e a escuridão serve de habitat para aranhas, sapos e outros animais adaptados ao silêncio das rochas.

A passagem pela caverna reforça o contraste dual que define a Serra do Divisor: de um lado, a tentativa política e tecnológica de domar a fronteira para a extração de recursos; do outro, a complexidade de ecossistemas vivos que continuam a evoluir. O encontro entre o ferro esquecido e a biologia vibrante faz desta região um destino rico para quem busca compreender a intersecção entre geografia, política e meio ambiente na Amazônia brasileira.

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