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Plínio é repreendido por ofensa a Marina Silva, mas se recusa a pedir desculpas

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Durante a sessão plenária desta quarta-feira (19), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, reagiu às declarações do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que, em um evento da Fecomércio no Amazonas, na sexta-feira (14), mencionou a intenção de agredir a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

O senador Davi Alcolumbre classificou a fala do senador amazonense como “infeliz” e como um “combustível” para casos de violência em um país já polarizado. Após a manifestação de Davi, Plínio e outros parlamentares se manifestaram sobre o episódio.

“Uma fala de um senador da República, mesmo que de brincadeira ou com tom de brincadeira, agride, infelizmente, o que nós estamos querendo para o Brasil. Estamos vivendo em um país dividido e polarizado, o que está fazendo mal para as pessoas, e uma fala dessa só serve como combustível para essas agressões que estamos vendo nas famílias e na sociedade brasileira, onde todos acham que têm o direito de ofender e agredir uns aos outros”, avaliou o presidente da Casa.

O que aconteceu

No dia 14 de março, Plínio Valério disse que “suportou a ministra por mais de seis horas e dez minutos sem enforcá-la”. Alcolumbre explicou que, assim como Plínio, tem divergências político-ideológicas com a ministra, mas apontou que a fala do senador foi equivocada.

O posicionamento de Davi foi elogiado por senadoras como Eliziane Gama (PSD-MA), que, ao se solidarizar com a ministra, argumentou que a divergência faz parte do processo democrático, mas que “ódio” é inaceitável.

“Se quer divergir das ideias, das discussões, dos projetos, que divirja; isso faz parte do processo democrático. Agora, ter falas que incitam, por exemplo, o ódio, a discórdia, é algo terrível e não se pode admitir. Com a devida vênia e respeito que tenho ao meu colega senador Plínio, e o grande respeito que tenho à senadora e nossa ministra Marina Silva, isso é inaceitável, isso é inadmissível”, disse a senadora do Maranhão.

Plínio diz ter sido “brincadeira”

Diante do posicionamento do presidente do Senado e das senadoras, Plínio subiu à tribuna e afirmou que a fala foi “uma brincadeira”, referindo-se a uma audiência da CPI das ONGs, em novembro de 2023.

Marina Silva na CPI das ONGs, presidida por Plínio Valério.
Marina Silva na CPI das ONGs, presidida por Plínio Valério. FOTO: Folhapress

Segundo Plínio, a ministra foi tratada com “toda decência” na ocasião. Contudo, o senador, que presidiu o colegiado, apontou que ficou irritado diante das negativas da ministra em liberar obras na BR-319, rodovia vital para o Amazonas.

“Por ser mulher, por ser ministra, por ser negra, por ser frágil, foi tratada com toda a delicadeza; ela sabe disso. Um ano se passou e eu fui receber uma medalha e, na brincadeira, em tom de brincadeira, eu falei, falando da BR-319, eu disse: ‘Imaginem o que é ficar com a Marina seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la’. Todo mundo riu, eu ri, brinquei. Foi brincadeira”, explicou em seu discurso.

Situação foi comparada a mortes por Covid no AM

Para o senador, parlamentares ficaram mais sensibilizados com a fala dele sobre Marina do que com as mortes por covid-19 no Amazonas, devido à dificuldade de o oxigênio chegar às principais cidades do estado. Ele acrescentou que não se “excedeu”, mas “brincou fora de hora” e que “não está arrependido”, mas “não faria de novo”.

“Agora, o que me encanta é o Senado ficar sensibilizado com uma frase e não se sensibilizar com milhares de mortos e não me ajudarem a licenciar a BR-319. Eu não me excedi, eu brinquei talvez fora de hora, mas não me excedi. Se você perguntar: Você faria de novo?. Não. Mas está arrependido? Não, porque eu não ofendi. Eu passei seis horas e dez minutos tratando-a com decência, como merece toda mulher”, afirmou o senador.

Plínio ainda afirmou que sempre votou e propôs projetos para melhorar a vida das mulheres e negou ser machista:

“Eu fiquei viúvo, casei de novo, tenho três filhas, uma enteada, seis netas, três irmãs. As mulheres que trabalham no meu gabinete estão aqui. Esse negócio de machista… Repito, na minha casa, com uma mulher, quatro filhas, seis netas e três irmãs, todas as mulheres aqui, nenhuma tem queixa. Eu não as trato mal, então isso para mim não pega”, disse.

Senador também foi defendido

Márcio Bittar (União-AC), que foi relator da CPI, saiu em defesa de Plínio e afirmou que o senador foi desrespeitado pela ministra na CPI. Eduardo Girão (Novo-CE) acrescentou que o senador sempre foi “uma pessoa muito equilibrada, serena e humanista”.

Sérgio Petecão (PSD-AC), por sua vez, disse que Plínio deve ter falado em “tom de brincadeira”, mas que Marina é uma das maiores personalidades do país e do mundo e motivo de orgulho para o seu estado.

Plínio recusa pedir desculpas

Eliziane aconselhou Plínio Valério a pedir desculpas. Em resposta, o senador disse que Marina também deveria pedir desculpas a ele. Em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministra”, do CanalGov, nesta quarta-feira, Marina classificou a declaração de Plínio como clara incitação à violência contra a mulher e chamou o senador de “psicopata”.

“Ela me chamou de psicopata. Empatou. Não vou processá-la por isso”, acrescentou o senador.

A senadora Leila Barros (PDT-DF) classificou a atitude de Plínio Valério como um exemplo do que as mulheres sofrem cotidianamente.

“Não me interessa o contexto em que as pessoas falam: se é uma brincadeira, uma piada, numa roda de amigos ou um discurso. Não é normal. Isso é inaceitável. Figuras públicas, pessoas, seja um presidente, seja um senador, seja um advogado, seja um mecânico; qualquer homem, qualquer cidadão neste país tem que respeitar a mulher. Estamos perdendo tempo, dando um péssimo exemplo para o exterior, cada um justificando o que fez” disse a senadora.

Repúdio

Em nota, a procuradora Especial da Mulher do Senado, Zenaide Maia, declarou repúdio à atitude de Plínio Valério e sugeriu que o senador se desculpe publicamente. Zenaide disse ainda considerar “gravíssimo” ver um membro do Parlamento cometer um “explícito ato de violência de gênero contra uma mulher”.

“As credenciais da ministra Marina, autoridade mundial em sustentabilidade, defesa dos recursos naturais e mudanças climáticas, nem precisariam ser elencadas, porque toda violência contra toda mulher tem que ser evitada, combatida e, sim, punida. Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva. Se o senador agrediu uma ministra, agrediu também a todas nós parlamentares e a todas as brasileiras. Todas nós somos Marina”, afirma a nota.

*Com informações da Agência Senado

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