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Explicando: fenômeno “terras caídas”, que tem causado deslizamentos no AM

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O termo ‘terras caídas’ tem aparecido cada vez mais quando o assunto é estiagem no Amazonas. O fenômeno, comum na região Norte durante perídos de seca, tem se tornado denominador comum na explicação por trás dos cada vez mais frequentes episódios de deslizamento de terra no interior do estado — desastres de grande escala que tem deixado mortos e feridos em diversos municípios desde 2023.

Terras caídas

As “terras caídas” são caracterizadas pelo deslizamento e colapso de grandes paredões de terra nas margens dos rios amazônicos. O desmoronamento de barrancos, quando relacionado a esse fenômeno, é causado por uma combinação de fatores naturais, como erosão fluvial, quantidade de água no solo e a força gravitacional.

Acontece da seguinte forma: Durante o período de cheia, a água tende a saturar o solo das margens, que fica encharcado e desgastado pelo constante contato do rio. Quando o período de seca anual chega, os níveis de água baixam repentinamente, o que deixa barrancos na beira dos rios ‘desamparados’ e vulneráveis a quedas devido à força de cisalhamento — deformação causada pelo peso do próprio solo sobre si mesmo.

O processo pode ser lento e quase imperceptível, acontecendo ao longo de meses ou anos, mas em alguns casos, após certo tempo de desgaste, ocorre de forma repentina e catastrófica, causando acidentes que atingem áreas de até vários quilômetros de extensão.

Estiagem severa piora o fenômeno?

Os desbarrancamentos causados por terras caídas modificam a paisagem ribeirinha dos estados da Amazônia com certa frequência, graças a grandes quantidades de terra que se desprendem do ‘resto’ de um morro ou barranco e são levadas pelas correntes dos rios. É um acontecimento natural.

Entretanto, desde o agravamento das secas na Amazônia, diversos casos de desbarrancamentos graves em municípios do interior do Amazonas geraram dúvidas sobre a normalidade de tais fatos. Ainda em 2023, um desabamento na Vila Arumã, em Beruri, deixou 2 pessoas mortas e mais de 200 desabrigadas; e em Manicoré — no Sul do estado —, outro desbarrancamento causou estragos sem vítimas fatais, mas levando 25 pessoas a perderem suas casas.

Em outubro de 2024, um desbarracamento causado pelo fenômeno das terras caídas causou o desmoronamento parcial do Porto de Terra Preta, em Manacapuru. O espaço também abrigava o Terminal Hidroviário e a Secretaria Municipal de Pesca (Sempa). Como resultado, duas pessoas morreram no acidente e outras 11 pessoas ficaram feridas.

Poucos dias depois, incidentes semelhantes foram registrados em Boa Vista de Ramos — no Centro Amazonense. Ainda em outubro, o Porto de Autazes teve que ser interditado pela Defesa Civil do Amazonas devido ao risco de desabamento com as mesmas causas dos anteriores.

De acordo com a Defesa Civil do Amazonas, a intensidade do fenômeno está ligada à variação dos níveis dos rios. Em 2023, toda a região Amazônica enfrentou uma das piores secas já registradas, o que agravou o problema, uma vez que quanto mais baixo o nível da água está, maior é a área exposta de barrancos que tem que sustentar o próprio peso sem o auxílio da sustentação da água.

O Rio Negro, por exemplo, chegou a níveis historicamente baixos em 2023 — com mínima de 12,70m —, e bateu o próprio recorde em 2023 — com níveis que chegaram a 12,11m. O cenário foi semelhante nos rios Madeira, Purús e Solimões, que também enfrentaram baixas históricas.

Mas o que fazer?

Com a avanço das mudanças climáticas em todo o mundo, autoridades ambientais preveem que desastres naturais como as secas severas que tem assolado o estado passem a ser cada vez mais comuns. Mas, então, se não há como evitar, o que fazer?

Apesar de ser um processo natural, o impacto do fenômeno pode ser reduzido por meio de monitoramento constante das áreas de risco e pelo planejamento urbano que evite a ocupação de locais suscetíveis a deslizamentos.

Os municípios afetados por desbarrancamentos graves no Amazonas desde 2023 são pequenos e, em sua maioria, isolados, sem o acesso de autoridades governamentais que deveriam fiscalizar as condições da área para moradia e comércio. Com o monitoramento adequado, tragédias anunciadas como as de Beruri e Manacapuru podem ser evitadas.

Em Autazes, por exemplo, o porto da cidade foi interditado graças à observação de uma fissura geológica que geralmente é um dos sinais de risco de desbarrancamento na margem de rios. Na época, a Defesa Civil do Amazonas chegou a realizar uma perícia no local e confirmar o risco:

“Enfatizamos a todos que têm família, amigos ou parentes que moram nessas regiões, que qualquer rachadura no solo deve ser comunicada e denunciada à Defesa Civil do Município ou até mesmo do Estado, para fazermos uma perícia e evitarmos tragédias como esta”, disse o secretário executivo da Defesa Civil do Estado, Coronel Clóvis Araújo.

Com a crescente atenção da sociedade a esse tipo de fenômeno, aumentou também o cuidado dos governos municipais, estadual e federal acerca das regiões que correm perigo.

“Em algumas situações esse fenômeno pode gerar problemas ambientais, perda de estruturas como casas, vias e instalações. Essas áreas devem ser monitoradas, e medidas de prevenção devem ser tomadas quando o fenômeno pode atingir comunidades ou áreas de interesse”, chegou a afirmar o diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid), após o desbarrancamento em Boa Vista de Ramos.

Moro em uma margem de rio, e agora?

Se você mora em uma margem de rio amazônico, principalmente em áreas pouco monitoradas por órgãos de governo, é importante tomar algumas precauções para resguardar sua segurança. Fique atento:

  1. Monitore o terreno: Observe o surgimento de rachaduras ou mudanças no solo perto de sua residência;
  2. Evite construir imóveis próximos a barrancos: Mantenha uma distância segura do rio sempre que possível;
  3. Respeite órgãos de monitoramento: Siga as orientações da Defesa Civil e participe de programas comunitários de fiscalização; os órgãos fazem inspeções com o objetivo de evitar desastres como os vistos anteriormente;
  4. Desocupar áreas de risco: Caso haja indícios de desmoronamento ou sinais de alerta, evacue imediatamente e procure uma sede do governo.

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