O interesse internacional pelas reservas de terras raras no Brasil colocou o país no centro de uma disputa geopolítica e reacendeu um antigo debate econômico. Desde meados de 2025, quando os Estados Unidos tornaram pública a intenção de buscar minerais estratégicos em território brasileiro, o setor vive um momento de efervescência. No entanto, especialistas apontam para um dilema crucial: aproveitar a demanda imediata para exportar ou investir pesado para dominar a cadeia de refino e agregar valor ao produto nacional.
Atualmente, o Brasil possui 12 lavras autorizadas e outras 186 em análise, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). O potencial é vasto, com 1.790 pesquisas minerais autorizadas que podem revelar novos depósitos, além de 348 pedidos sob avaliação. A corrida é justificada pela importância desses 17 elementos químicos, essenciais para a fabricação de motores de veículos elétricos, turbinas eólicas e dispositivos de defesa.
Projetos avançam em Goiás e Minas Gerais
A única operação comercial ativa no momento pertence à Serra Verde Mineração, localizada em Minaçu (GO). A empresa, que iniciou suas atividades em janeiro de 2024, está em fase de aceleração gradual (ramp-up) e projeta alcançar a produção anual de 5 mil toneladas de óxidos de terras raras, fundamentais para a indústria de ímãs permanentes de alta eficiência.
Paralelamente, a região de Poços de Caldas (MG) desponta como um novo polo, atraindo capital australiano. Dois empreendimentos acabam de receber licença prévia:
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Projeto Caldeira (Meteoric): Inaugurou neste mês uma planta-piloto com investimento de 1,5 milhão de dólares australianos (cerca de R$ 5,5 milhões). A unidade tem capacidade para processar 25 kg de argila iônica por hora, realizando todas as etapas de transformação, da lixiviação à filtração. A meta é produzir 455 kg de carbonato por ano para validar o processo.
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Projeto Colossus (Viridis Mining & Minerals): Habilitou-se para receber financiamento do BNDES e da Finep, além de obter uma carta de interesse de até US$ 100 milhões de uma agência de crédito à exportação do Canadá.
O domínio da China e a busca por diversificação
O pano de fundo dessa movimentação é a hegemonia da China, que hoje responde por 70% da produção global e impressionantes 85% da capacidade de refino de terras raras. Esse monopólio garante aos chineses influência decisiva sobre indústrias de alta tecnologia e transição energética.
Diante desse cenário, Estados Unidos, União Europeia, Japão e Austrália buscam diversificar fornecedores para reduzir a dependência asiática. O Brasil, detentor da segunda maior reserva mundial, surge como a alternativa natural, embora sua produção ainda seja incipiente devido a gargalos logísticos e incertezas regulatórias.
Exportar bruto ou dominar a tecnologia?
A grande questão que divide analistas é a estratégia a ser adotada. Patrícia Muricy, sócia-líder da Indústria de Mineração da Deloitte, defende que o Brasil não deve se contentar em ser apenas um exportador. “Não basta investir, é preciso dominar a tecnologia. A exportação de materiais processados gera muito mais renda”, afirma Muricy, alertando para a necessidade de senso de urgência e políticas públicas eficientes.
Por outro lado, Mateus Figueiredo, sócio da KPMG, adota uma postura pragmática. Ele lembra que a tecnologia de refino é complexa e não será cedida facilmente. “Ninguém vai dar tecnologia de graça para o País”, pontua. Para ele, o foco inicial deveria ser a extração, gerando receita imediata enquanto se tenta construir a cadeia de longo prazo.
O Ibram adota uma posição intermediária. Julio Nery, diretor de Sustentabilidade, sugere avançar na cadeia de valor onde for possível, sem perder a rentabilidade. Ele alerta para a dificuldade de competir com os custos chineses e a infraestrutura robusta que a China construiu nas últimas décadas.
Mesmo com os desafios, o setor segue otimista. As terras raras representam 3,2% dos investimentos previstos para a mineração brasileira entre 2025 e 2029, totalizando US$ 2,2 bilhões em novos projetos.
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