A tragédia ocorreu no interior do Amazonas e mobilizou a Polícia Civil. Profissional não atendeu aos chamados da equipe hospitalar durante a madrugada
Um caso dramático de suposta negligência médica abalou a população do município de Eirunepé, no interior do Amazonas, neste fim de semana. Um médico afastado de suas funções é o foco de uma investigação policial e administrativa após um recém-nascido vir a óbito logo após o parto. O profissional, identificado como o boliviano Humberto Fuertes Estrada, só compareceu ao Hospital Regional de Eirunepé Vinícius Conrado cinco horas após a gestante dar entrada na unidade em trabalho de parto.
A situação, que culminou na morte do bebê na manhã de sábado (22), expôs uma falha grave na escala de sobreaviso da unidade de saúde. Segundo as informações apuradas, a mãe, uma jovem de apenas 18 anos, chegou ao hospital buscando assistência por volta das 4h da madrugada. O médico, que deveria estar à disposição para emergências (sobreaviso), não foi encontrado pela equipe de enfermagem e plantonistas, desencadeando uma série de tentativas desesperadas de contato.
A cronologia de uma espera angustiante
O protocolo de atendimento de urgência foi severamente comprometido pela ausência do profissional. Relatos da equipe do hospital indicam que, assim que a gestante deu entrada e a necessidade de intervenção médica foi constatada, iniciaram-se as ligações para Humberto Fuertes Estrada. No entanto, o médico não atendeu a nenhuma das chamadas telefônicas realizadas pelos funcionários da unidade.
Diante do silêncio do profissional e da evolução do trabalho de parto da paciente, a direção do Hospital Regional tomou medidas extremas para tentar localizar o médico afastado posteriormente. Uma ambulância foi enviada até a residência de Estrada na tentativa de acordá-lo ou encontrá-lo, mas, novamente, não houve resposta. A Prefeitura de Eirunepé também se envolveu na busca ativa pelo profissional durante a madrugada, sem obter sucesso no retorno.
O médico só apareceu na unidade hospitalar por volta das 9h da manhã. Neste momento, já haviam se passado aproximadamente cinco horas desde a internação da gestante. O procedimento de parto foi realizado imediatamente após a chegada tardia do profissional, mas as complicações decorrentes da longa espera mostraram-se fatais.
Causas da morte e investigação policial
De acordo com testemunhas e relatos preliminares colhidos no local, o recém-nascido apresentava sinais claros de sofrimento fetal. A principal suspeita clínica é que, devido à demora na realização do parto, o bebê tenha aspirado mecônio (fezes) e restos de placenta ainda no útero ou durante o canal de parto. A criança não resistiu às complicações respiratórias e infecciosas decorrentes dessa aspiração e faleceu cerca de uma hora após o nascimento.
O caso foi imediatamente levado às autoridades competentes. O médico afastado foi conduzido à delegacia do município de Eirunepé para prestar os devidos esclarecimentos sobre sua ausência durante o plantão de sobreaviso. A Polícia Civil do Amazonas informou que já iniciou os procedimentos investigativos. O exame cadavérico do recém-nascido foi requisitado com urgência e encontra-se em análise para determinar, cientificamente, a causa exata da morte e o impacto direto da demora no atendimento.
Além do médico, testemunhas que presenciaram a agonia da família e a movimentação da equipe hospitalar também já foram ouvidas pelas autoridades policiais. A defesa do médico Humberto Fuertes Estrada ainda não se pronunciou oficialmente sobre o ocorrido.
Posicionamento oficial e medidas administrativas
A repercussão do caso exigiu uma resposta rápida do Poder Público. Em nota oficial, a Secretaria Municipal de Saúde de Eirunepé confirmou que o médico afastado não faz mais parte da escala de atendimento da unidade enquanto as investigações prosseguem. A pasta garantiu que está prestando todo o suporte necessário à família enlutada.
“A família da gestante está recebendo assistência e acompanhamento necessários, com apoio multiprofissional da rede de saúde do município”, diz um trecho do comunicado.
A administração municipal também reforçou seu compromisso com a transparência e a legalidade, afirmando que não tolerará condutas que coloquem em risco a vida dos pacientes. “A Prefeitura de Eirunepé reitera seu compromisso institucional com a segurança dos pacientes, com o respeito às normas que regem o exercício profissional na saúde e com a adoção de todas as medidas legais e administrativas pertinentes para a completa elucidação dos fatos e prevenção de novas ocorrências”, declarou a Secretaria.
O Conselho Regional de Medicina e a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) também foram acionados para comentar sobre a fiscalização de profissionais em regime de sobreaviso no interior do estado, mas até o fechamento desta matéria, novos detalhes sobre o processo administrativo estadual não haviam sido divulgados. A comunidade de Eirunepé aguarda agora os laudos periciais que poderão confirmar a responsabilidade criminal pela tragédia.
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