O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu, nesta sexta-feira (14), a criação de uma governança global e representativa para a inteligência artificial, visando garantir que seus benefícios sejam “compartilhados por todos”. A declaração aconteceu durante a sessão de engajamento externo da Cúpula do G7, realizada em Borgo Egnazia, na região da Puglia, no sul da Itália.
“As instituições de governança estão inoperantes diante da realidade geopolítica atual e perpetuam privilégios”, afirmou Lula.
Cúpula do G7
O evento, que começou na quinta-feira (13) e se estende até sábado (15), reúne líderes das sete maiores economias do mundo. A sessão de trabalho teve início com discursos da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e do papa Francisco. As falas do presidente Lula e de outros líderes não foram transmitidas ao vivo, mas o texto lido por Lula foi divulgado pelo Palácio do Planalto.
As cúpulas do G7 frequentemente incluem países convidados, e esta é a oitava vez que Lula participa de uma reunião do G7. As seis primeiras ocorreram durante seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2009. Desde então, o Brasil não participava do encontro até a cúpula do ano passado em Hiroshima, Japão.
O que Lula disse no G7
Segundo o presidente brasileiro, os desafios atuais incluem a condução de uma revolução digital inclusiva e o enfrentamento das mudanças climáticas. Ele destacou que a inteligência artificial pode aumentar a capacidade dos Estados em adotar políticas públicas ambientais e ajudar na transição energética.
“Precisamos lidar com essa dupla transição tendo como foco a dignidade humana, a saúde do planeta e um senso de responsabilidade com as futuras gerações. Na área digital, vivenciamos concentração sem precedentes nas mãos de um pequeno número de pessoas e de empresas, sediadas em um número ainda menor de países. A inteligência artificial acentua esse cenário de oportunidades, riscos e assimetrias”, observou o presidente.
Para ele, qualquer uso da inteligência artificial deve respeitar os direitos humanos, proteger dados pessoais e promover a integridade da informação:
“Uma inteligência artificial que também tenha a cara do Sul Global, que fortaleça a diversidade cultural e linguística e que desenvolva a economia digital de nossos países. E, sobretudo, uma inteligência artificial como ferramenta para a paz, não para a guerra. Necessitamos de uma governança internacional e intergovernamental da inteligência artificial, em que todos os Estados tenham assento”, disse Lula.
Cooperação com a África
No segmento de engajamento externo deste ano, foram discutidos temas como inteligência artificial, energia, e a cooperação com a África e no Mar Mediterrâneo. Para Lula, os países africanos são parceiros essenciais no enfrentamento dos desafios globais.
“Com seus 1,5 bilhão de habitantes e seu imenso e rico território, a África tem enormes possibilidades para o futuro. A força criativa de sua juventude não pode ser desperdiçada cruzando o Saara para se afogar no Mediterrâneo. Buscar melhores condições de vida não pode ser uma sentença de morte”, disse Lula, referindo-se às mortes de migrantes no Mar Mediterrâneo.
Ele também destacou a necessidade de abordar a dívida externa dos países africanos, que desvia recursos de áreas críticas como educação e saúde, contribuindo para a instabilidade social e política. “Sem agregar valor a seus recursos naturais, os países em desenvolvimento seguirão presos na relação de dependência que marcou sua história. O Estado precisa recuperar seu papel de planejador do desenvolvimento”, acrescentou o presidente.
Quem participa do G7
O G7 é composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. Além dos membros do grupo, da Santa Sé e do Brasil, participaram da reunião representantes da África do Sul, Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Índia, Jordânia, Mauritânia (representando a União Africana), Quênia e Turquia.
Entre os organismos internacionais convidados estão a União Europeia, a Organização das Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
Hoje e amanhã, Lula terá diversos encontros bilaterais com líderes presentes no evento. A previsão é que a comitiva presidencial retorne ao Brasil no domingo (16).
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