O Brasil finalmente saiu do Mapa da Fome da ONU, quatro anos depois de voltar a figurar na lista. O dado é positivo, sem dúvida. Ele mostra que, com políticas públicas direcionadas, é possível mudar realidades e tirar milhões de pessoas da insegurança alimentar grave. Mas, se olharmos além do número oficial, a pergunta que fica é: isso significa que o problema da fome acabou? A resposta, infelizmente, é não.
Um passo importante, mas não suficiente
De acordo com a ONU, para sair do Mapa da Fome, menos de 2,5% da população precisa estar em risco de subnutrição. O Brasil cumpriu essa meta, impulsionado por programas como o Brasil Sem Fome, que, desde 2023, retirou 24 milhões de pessoas da situação mais crítica. É um avanço que merece ser reconhecido, mas também relativizado.
Isso porque, mesmo com o país fora do mapa, 35 milhões de brasileiros ainda vivem insegurança alimentar — o que significa que não sabem se terão comida suficiente ou de qualidade nos próximos dias. Em regiões como Norte e Nordeste, a realidade é ainda mais dura, com taxas que chegam a 7,7% dos lares.
Um país que produz, mas não alimenta
O Brasil é um dos cinco maiores produtores de alimentos do planeta. Ainda assim, milhões passam fome. Não é contraditório? Não é apenas uma questão de quantidade produzida, mas de distribuição e acesso. Parte significativa da nossa produção agropecuária é destinada à exportação, enquanto aqui dentro, o prato de muitos brasileiros continua vazio — ou cheio, mas de comida ultraprocessada e de baixo valor nutricional.
A fome e a obesidade caminham juntas
Outro dado que chama atenção é que, enquanto milhões enfrentam a fome, a obesidade cresce de forma acelerada. Em dez anos, o número de brasileiros obesos saltou de 19,1% para 28,1%, somando mais de 45 milhões de pessoas. Isso escancara que o problema da alimentação no Brasil vai além da falta de comida: trata-se também da qualidade do que está chegando à mesa.
O desafio real começa agora
Sair do Mapa da Fome é uma conquista, mas o verdadeiro desafio é não voltar para ele — e, mais que isso, construir um país em que a alimentação saudável e digna seja realidade para todos. Isso exige políticas públicas consistentes, incentivo à agricultura familiar, melhoria na renda da população e, principalmente, uma mudança de prioridade: pensar no abastecimento interno com a mesma importância que damos à exportação.
O Brasil pode e deve ser referência mundial, não apenas na produção de alimentos, mas no combate à fome de forma definitiva. Enquanto isso não acontecer, estar fora do mapa será apenas um alívio temporário — e não uma vitória completa.
*Com informações da Exame
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