A relação econômica entre Brasil e China está entrando em uma nova fase, marcada por maior colaboração em infraestrutura, inovação tecnológica e desdolarização das transações comerciais. A avaliação é do economista Henry Huiyao Wang, ex-conselheiro de Estado da China e presidente do think tank Center for China and Globalization (CCG), durante a Conferência Anual do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), realizada em São Paulo.
Em sua primeira visita ao país, Wang reforçou que o agronegócio brasileiro segue como pilar fundamental da relação bilateral, especialmente diante das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. No entanto, ele destacou que os próximos passos da parceria envolvem avanços em áreas estratégicas como logística, inteligência artificial (IA), manufatura e o uso do Renminbi (RMB) nas operações comerciais, fortalecendo o movimento de desdolarização.
Desdolarização e uso do Renminbi no comércio Brasil-China
A chamada desdolarização já é realidade em parte do comércio entre os dois países. Um Memorando de Entendimentos assinado em 2023 entre o Banco Central do Brasil (BCB) e o Banco Central da China (PBC) permite a liquidação direta em reais e yuan, eliminando a necessidade de conversão para o dólar.
Segundo Wang, atualmente mais de 30% das transações bilaterais já são liquidadas em RMB. Ele defendeu a ampliação desse mecanismo e sugeriu a criação de uma operação de factoring em yuan em São Paulo para reduzir riscos cambiais e fortalecer a integração financeira entre os países.
China quer investir em logística e trens de alta velocidade no Brasil
Um dos principais entraves apontados por Wang para ampliar a presença chinesa no Brasil é o desafio logístico. Ele classificou a infraestrutura como o “gargalo mais crítico” para o avanço das exportações e prometeu apoio de investidores chineses para superar esse obstáculo, que eleva o chamado “Custo Brasil”.
A proposta chinesa é desenvolver corredores logísticos, investir em portos inteligentes e colaborar em projetos emblemáticos, como a construção de trens de alta velocidade entre grandes cidades brasileiras. O objetivo é melhorar o escoamento de produtos agrícolas e ampliar a integração comercial entre as regiões.
Inovação, veículos elétricos e transição para Indústria 4.0
Além da logística, os investimentos chineses no Brasil estão cada vez mais diversificados, com foco em setores de alto valor agregado. Em 2024, empresas da China investiram em 29 projetos, totalizando US$ 4,2 bilhões — um crescimento de 115% em relação a 2023, com destaque para a mobilidade elétrica.
Marcas como BYD e Great Wall Motors lideraram os aportes em veículos elétricos, enquanto outras companhias chinesas apostam em IA, robótica e automação. De acordo com Wang, a intenção é transformar o Brasil em um hub tecnológico e industrial para o mercado latino-americano, ajudando o país na transição para a Indústria 4.0.
Agronegócio brasileiro segue como eixo da parceria
Apesar da expansão para outras áreas, o agronegócio brasileiro continua sendo uma das maiores prioridades para a China. Em 2024, as exportações do setor para o país asiático somaram US$ 49,7 bilhões — o equivalente a 30,2% das exportações totais do setor.
Entre os principais produtos enviados estão soja, milho, açúcar, carnes bovina, suína e de frango, além de algodão e celulose. A China respondeu por 73% das exportações brasileiras de soja e por cerca de 50% das exportações de carne bovina.
Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, a China vê o Brasil como um parceiro essencial para garantir sua segurança alimentar, em meio a um cenário geopolítico de tensões prolongadas com os Estados Unidos.
Nova fase da parceria: além das commodities
Para Henry Wang, Brasil e China estão passando de “parceiros em commodities e comércio” para “colaboradores em inovação, manufatura, crescimento verde e governança global”. Ele vê os dois países como líderes do Sul Global e forças estabilizadoras no cenário internacional, com potencial para fortalecer o multilateralismo e combater tendências protecionistas.
Desde 2007, o investimento chinês no Brasil já ultrapassa US$ 79 bilhões. A tendência, segundo Wang, é que essa relação continue se aprofundando, com o Brasil ocupando papel estratégico no novo desenho geoeconômico liderado por Pequim.
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