Migrante nômade. Payasa (palhaça) e bonequeira cicloviajante. Era dessa forma que a artista venezuelana Julieta Ines Hernández Martinez, de 38 anos, se descrevia em suas redes sociais.
Desaparecida desde 23 de dezembro de 2023, Julieta Hernández foi encontrada morta em uma área de mata próxima a um refúgio em Presidente Figueiredo (a 126,8km de Manaus) no dia 6 de janeiro de 2024.
No mesmo dia, a Polícia Civil capturou Thiago Agles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos, um casal suspeito de ter assassinado a artista. Os dois viviam de favor no imóvel, e cobravam uma diária de R$10 para que viajantes dormissem em redes na área externa da casa. Os dois suspeitos então confessaram o crime e estão presos preventivamente.
Julieta estava de passagem em Presidente Figueiredo. Seu destino era Rorainópolis, uma cidade no estado de Roraima, situada a 296km da capital, Boa Vista, de onde a artista seguiria caminho para sua cidade natal para encontrar sua família. Sua falta foi sentida por amigos imediatamente após seu desaparecimento, já que Julieta mantinha o hábito de compartilhar sua localização com frequência aos outros viajantes que a acompanhavam regularmente.
Quem era Julieta Hernández?
Situada no Brasil há 8 anos, Julieta, também conhecida por seu nome artístico Miss Jujuba, era uma artista circense, artesã e cicloviajante nascida em Porto Ordaz, no estado de Bolívar, Venezuela. Em sua terra natal, fundou a Rede Venezuelana de Palhaços, e era popular entre os artistas da categoria.

Julieta oferecia oficinas de arte e artesanato para crianças tanto na Venezuela quanto no Brasil, por onde viajava de bicicleta desde 2019 junto com os membros do grupo de cicloviajantes circenses, o ‘Pé Vermêi’.
Em suas viagens, Julieta passou por 9 estados do Brasil, incluindo Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Pará, Piauí, Ceará, Espírito Santo, Maranhão e Amazonas, e era de suas apresentações urbanas como palhaça que vinham sua principal renda. Além disso, ela confeccionava bonecas sob encomenda, sendo elas réplicas de pessoas feitas com fotografias como referência, ou personagens do folclore brasileiro ou venezuelano.

Apaixonada por arte, Julieta mostrava seu trabalho como performer e seu artesanato em seu Instagram, @utopiamaceradaenchocolate. Em suas publicações, falava sobre suas viagens, seu cotidiano, o que aprendia pelo caminho e as pessoas que conhecia.
Nos relatos de suas redes sociais, a palhaça Miss Jujuba era retratada como uma parte de si mesma. Em uma publicação, ela escreveu “Quantas vezes não escutei que melhor me dedicar em outro ofício… e se eu lhe digo, minha gente, que eu sem ela já não sei mais viver?”

Repercussões e homenagens
O crime chocou tanto o Brasil quanto a Venezuela. No dia 8 de janeiro, o ministro da Cultura da Venezuela, Ernesto Villegas, solicitou uma punição exemplar para o que chamou de “um crime abominável”, enquanto expressava sua gratidão às autoridades brasileiras pelo apoio na repatriação do corpo e pelo cuidado dedicado aos familiares da artista que partiu de maneira brutal.
“A Venezuela perde com Julieta Hernández uma artista integral, expressão da afirmação venezuelana”, ressaltou a nota divulgada.
Em Manaus, artistas e amigos de Julieta fizeram um protesto na tarde deste sábado (6). O ato de ocupação ocorreu no Largo São Sebastião, um dos principais pontos turísticos da cidade. Com cartazes e palavras de ordem, os protestantes buscavam chamar a atenção das autoridades e da sociedade para o caso.

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