Em entrevista, Lyana Latorre, vice-presidente da entidade, defende que COP30 no Brasil é oportunidade para transformar coordenação em colaboração efetiva e sistêmica.
A Fundação Rockfeller, através de sua vice-presidente para América Latina e Caribe, Lyana Latorre, emitiu um importante alerta sobre a percepção global do bioma amazônico. Em meio às discussões que antecedem a COP30, Latorre enfatizou que “o mundo precisa entender o que é a Amazônia” em sua complexidade total, indo além da floresta e incluindo suas cidades e comunidades remotas.
Para a executiva, o ecossistema filantrópico global precisa dar um passo adiante, movendo-se da simples coordenação para uma colaboração efetiva, se quiser enfrentar os desafios práticos das mudanças climáticas. Atualmente, a fundação concentra seus esforços em três linhas de trabalho principais: energia, sistemas de alimentação e saúde.
Estes pilares se traduzem em ações práticas, como o fomento ao uso de energias limpas em comunidades vulneráveis, o incentivo direto à agricultura regenerativa e a análise profunda dos impactos que as mudanças climáticas já exercem sobre a saúde pública.
“O que queremos é continuar todo esse trabalho que já se fazia e que se tem feito por muitos anos no Brasil e na Colômbia, expandindo-o a outros países, porque vemos uma oportunidade muito grande de trabalhar colaborativamente e com as comunidades locais”
Destacou Latorre.
COP30 no Brasil: um desafio de implementação e financiamento
Questionada sobre o grande desafio de financiar a agenda climática global, Lyana Latorre classificou o cenário como “um grande desafio, mas um bom desafio”. Ela alinhou-se ao consenso de que a COP30, sediada no Brasil, precisa ser focada na “implementação” de ações concretas.
Na avaliação da vice-presidente, os problemas e as abordagens necessárias já estão claros para a comunidade internacional. O verdadeiro entrave reside na execução prática, que depende de dois fatores cruciais: “um, o financiamento, claro, mas também a colaboração”.
Latorre vê a realização da conferência no Brasil como uma “grande oportunidade” para que a região amazônica e a América Latina possam definir de forma mais tangível “o que fazer, o que implementar, por onde começar”. Ela acredita que o alinhamento do país anfitrião com os objetivos da conferência é um catalisador para avanços significativos.
“O ecossistema filantrópico tem focado em como passamos de coordenar mais a colaborar mais e melhor”, reforçou a executiva. “É muito diferente coordenar de colaborar.”
O papel da Fundação Rockfeller e o futuro da filantropia
Lyana Latorre definiu como “fundamental” o papel da filantropia neste contexto de implementação. Ela citou um estudo recente apoiado pela Fundação Rockfeller e conduzido pela The Research Foundation, que entrevistou 70 líderes de vários países da América Latina e Caribe.
O estudo buscou entender como a filantropia pode otimizar seu trabalho junto ao setor privado, descrito por Latorre como “um stakeholder muito importante nesta região para poder avançar em projetos e em iniciativas de impacto social”.
A vice-presidente observou que, historicamente, a região opera em “modo emergência” devido a necessidades prementes, como altos índices de pobreza e dificuldades no acesso à saúde e alimentação. No entanto, ela defende uma mudança estrutural nessa abordagem.
“Eu acho que há um convite, além da urgência, a pensar em como solucionar um problema de fundo. E isso é algo que está no DNA da Fundação Rockfeller. Sempre dizemos não como solucionar uma emergência, mas, sim, como solucionar um problema que gere uma mudança sistêmica”, explicou. Para Latorre, este deve ser o novo foco das organizações filantrópicas: investir em projetos de longo prazo.
Desafio dos 27%: reconstruindo a confiança no setor
A entrevista também abordou um ponto sensível: a baixa confiança da sociedade civil nas instituições filantrópicas na América Latina. Latorre revelou um dado preocupante do relatório, que aponta que apenas 27% das pessoas confiam em organizações de base ou fundações.
“É um número que precisa ser melhorado, essa confiança tem de crescer, porque se torna um catalisador de outras coisas, de mais parcerias, de mais fundos, de melhores fundos”, avaliou a executiva.
Para reverter este quadro, ela sugere ações concretas baseadas em transparência e eficiência: “medir melhor”, “colaborar mais” e “fazer coalizões”. O uso de ferramentas tecnológicas modernas para consolidar informações e resultados é visto como essencial.
Neste ponto, Latorre elogiou o ecossistema filantrópico brasileiro, colocando-o como um benchmark regional.
“Eu creio que o Brasil, dentro da região, tem um papel de destaque, para nos ensinar em temas de que o país de vocês é muito mais avançado, e isso também gera confiança”
Afirmou Lyana Latorre.
Amazônia: Um Bioma de Nove Países que Exige Colaboração
Ao projetar o cenário pós-COP30, especificamente sobre a colaboração entre os nove países que compõem o bioma amazônico, Lyana Latorre mostrou-se “sempre otimista”. Ela lembrou que a vasta região representa “muitas pessoas” e, portanto, “uma oportunidade para o mundo”.
A executiva da Fundação Rockfeller criticou a visão frequentemente reducionista que se tem da região. “Para muitas pessoas, a Amazônia é ou só o Brasil, ou só o Peru, ou Peru, Colômbia e Brasil, mas há mais países, e muitas dessas cidades ou comunidades que estão dentro do bioma amazônico são remotas e necessitam de apoio”.
Latorre concluiu afirmando que a COP30 funciona como um “alerta” global para a real dimensão e complexidade da Amazônia. “Quando se pensa na Amazônia, é tudo, não só a floresta: são as cidades que estão na Amazônia, são as comunidades remotas que estão na Amazônia”. Ela espera que a conferência abra um diálogo mais profundo sobre quem compõe o bioma, gerando, consequentemente, “um compromisso de fazer mais coisas”.
* Com informações: Correio Braziliense
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