Em vez de apenas relaxar, profissionais estão usando o tempo livre para expedições de fotografia, retiros de ioga e imersão em novos idiomas, buscando crescimento pessoal e profissional.
Para a maioria dos profissionais, planejar as férias é sinônimo de descanso: relaxar à beira da piscina, colocar o sono em dia ou maratonar séries. No entanto, uma nova tendência chamada skillcations (ou “férias de habilidades”) está ganhando força. A ideia é utilizar os dias de folga não apenas para o lazer passivo, mas para ativamente aprimorar competências existentes ou aprender algo completamente novo que possa impulsionar a vida e a carreira.
Quem adota essa modalidade descreve uma sensação diferente ao retornar ao escritório, substituindo o cansaço pós-férias por um sentimento de realização.
O que impulsiona a alta das “skillcations”?
As “skillcations” estão em alta porque conseguem unir o melhor de dois mundos: o desejo por crescimento pessoal e a cultura de produtividade. A explicação é de David Dominguez, vice-presidente de pessoas da plataforma digital suíça Smallpdf.
“Aprender uma nova habilidade enquanto viaja pode ser uma forma de otimizar o tempo livre”, afirma Dominguez. “A tendência combina o lazer das férias com pontos de virada na trajetória profissional.”
Essa busca por atividades já se reflete nos números. Um relatório da Future Partners, empresa de pesquisa e consultoria em turismo, mostra que 39% dos viajantes preferem excursões repletas de atividades. Exemplos incluem desde expedições de fotografia e retiros de ioga até experiências imersivas de aprendizado de um novo idioma em outro país.
Crescimento como renovação: A psicologia por trás da tendência
Diferentemente das férias tradicionais, focadas exclusivamente no descanso, as “skillcations” apostam no crescimento como a verdadeira forma de renovação. O objetivo é claro: combinar curiosidade, criatividade e desenvolvimento para que os viajantes retornem ao trabalho mais motivados.
Marais Bester, consultor sênior da SHL, empresa global de consultoria estratégica, afirma que o aprendizado é o verdadeiro segredo para recarregar as energias. “Muitas vezes, presumimos que descansar significa não fazer nada, mas a psicologia mostra que a renovação costuma vir de fazer algo diferente, algo que envolva tanto a mente quanto o corpo.”
Bester destaca o impacto psicológico positivo. Ao aprender uma nova habilidade ou se desafiar em um ambiente desconhecido, o indivíduo vivencia uma sensação de domínio. “Esses momentos nos lembram que somos capazes, adaptáveis e ainda estamos evoluindo”, diz ele. “Essa sensação de progresso é revigorante e alimenta a confiança e a motivação muito depois do fim da viagem.”
O debate: “Skillcations” podem ser trabalho disfarçado?
Apesar dos benefícios, a tendência levanta um debate importante. Quando um profissional mistura aprendizado e férias, corre o risco de cruzar a linha tênue que separa o desenvolvimento pessoal do trabalho disfarçado, podendo contribuir para o burnout em vez de evitá-lo.
As “skillcations” podem facilmente se transformar em uma extensão do escritório. “A pressão para ‘fazer as férias valerem a pena’ pode comprometer o descanso, especialmente quando os viajantes sentem que precisam provar algo para si mesmos, ou para o LinkedIn”, alerta David Dominguez. “Sem limites claros, elas podem gerar fadiga mental em vez de recarregar as energias.”
Lana Peters, diretora de receita e experiência da Klaar, plataforma americana de gestão de pessoas, reconhece que as “skillcations” demonstram ambição e preparam o profissional para o próximo passo na carreira. Contudo, ela ressalta a importância do descanso genuíno.
“O aprimoramento de habilidades deve fazer parte dos programas de treinamento e desenvolvimento oferecidos pelas empresas”, defende Peters. “Os profissionais deveriam usar o tempo de férias para relaxar, descansar e se desconectar. Isso os ajuda a voltar ao trabalho com mais energia e reduz as chances de burnout.”
O contraponto: Combate ao esgotamento através da paixão
Na outra ponta da discussão, especialistas argumentam que o crescimento pessoal proporcionado pelas “skillcations” faz justamente o oposto: combate o esgotamento.
Laura Lindsay, especialista global em tendências de viagem da Skyscanner, defende que a ideia dessas viagens é voltar renovado e estimulado, não exausto. “Percebemos que as skillcations ajudam a combater o excesso de trabalho e o sentimento de exaustão que muitos profissionais relatam”, afirma.
O segredo, segundo Lindsay, é focar em competências fora da área de atuação profissional. “Alguém que trabalha com publicidade, por exemplo, pode se interessar por culinária e explorar a gastronomia local durante as férias, fazendo aulas de cozinha ou até trabalhando em uma fazenda.”
Como aproveitar as “skillcations” sem cair na armadilha
O segredo para o sucesso de uma “skillcation” é escolher um interesse pessoal e se entregar à experiência, sem a pressão do desempenho profissional.
“Independentemente da habilidade que você queira desenvolver – beleza, culinária, esportes, literatura, arte ou dança – o importante é seguir suas paixões e deixar que elas inspirem suas viagens”, aconselha Lindsay.
Dados da Skyscanner reforçam essa visão, mostrando que 42% das pessoas estão priorizando atividades ao montar o orçamento das viagens. “Quando o viajante se envolve em algo novo e imersivo, isso o desafia e oferece um tipo de renovação diferente das férias tradicionais”, completa Lindsay.
Em 2024, as “férias silenciosas” (viajar sem avisar o chefe) estiveram em alta. As “skillcations”, por outro lado, trazem a vantagem da legitimidade. O tempo livre é planejado e o objetivo é aprender algo novo, sem o peso da desonestidade com o empregador.
Uma tendência que veio para ficar
Com trabalho e vida pessoal cada vez mais entrelaçados, muitos profissionais buscam um tempo fora do escritório que ainda pareça ter propósito. “Com o foco crescente em bem-estar e aprendizado contínuo, essa é uma tendência que veio para ficar”, prevê Lana Peters.
Empresas já começam a testar as “skillcations” como parte de programas de liderança e inovação. “O retorno tem sido positivo, as pessoas voltam mais criativas, reflexivas e conectadas”, conclui Marais Bester. “As ‘skillcations’ oferecem a chance de se afastar, aprender de novas formas e recomeçar.”
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