Líder brasileiro defende declaração conjunta do bloco, focada em economia e sustentabilidade, mesmo diante da ausência dos Estados Unidos no encontro.
O cenário geopolítico mundial volta suas atenções para o continente africano neste fim de semana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou nesta sexta-feira (21/11) em Joanesburgo, na África do Sul, onde vai participar na cúpula do G20. O encontro do bloco, que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana, acontece em um momento delicado da diplomacia internacional e promete debates intensos sobre o futuro econômico global.
A Cúpula do G20 deste ano será marcada por uma ausência significativa: os Estados Unidos não estarão representados por seu chefe de Estado, e o presidente Donald Trump já anunciou que não enviará representantes do governo para a reunião. Apesar disso, segundo informações do Itamaraty, existe a possibilidade real de que as tarifas comerciais impostas pelos EUA a diversos países, incluindo o Brasil, sejam debatidas pelos demais líderes, mesmo sem a presença americana na mesa de negociações.
O desafio da declaração final na Cúpula do G20
Historicamente, os encontros do grupo encerram-se com uma declaração conjunta, um documento diplomático vital onde as nações firmam compromissos mútuos. Na edição de 2024, por exemplo, os líderes abordaram temas que variavam desde o combate às mudanças climáticas até a taxação de grandes fortunas e conflitos bélicos. No entanto, a ausência dos Estados Unidos em 2025 gerou um impasse.
Representantes do Ministério das Relações Exteriores do Brasil admitiram que há discussões nos bastidores sobre a possibilidade de não haver uma declaração oficial do G20, quebrando uma tradição diplomática. Contudo, a posição do governo brasileiro é de resistência a esse cenário. Diplomatas do Itamaraty afirmam que a África do Sul, anfitriã do evento, defende vigorosamente a existência do documento final, uma medida que recebe apoio “firme” da gestão Lula. O objetivo é manter a relevância do bloco como fórum de decisão, independentemente das oscilações na política externa norte-americana.
Taxação dos super-ricos e economia global
Um dos pontos centrais que o Brasil e a África do Sul buscam consolidar na declaração da Cúpula do G20 é a justiça fiscal. O embaixador Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, confirmou durante briefing à imprensa que a taxação dos super-ricos deve constar novamente no documento final.
Segundo o diplomata, parágrafos específicos sobre o tema estão sendo negociados entre as delegações. Além disso, espera-se a realização de um “evento paralelo” dedicado exclusivamente a debater mecanismos para implementar essa tributação global, reforçando a pauta de combate à desigualdade que tem sido uma bandeira da diplomacia brasileira.
Terras raras e a soberania sobre minerais críticos
Outro tópico de extrema relevância para o Brasil na Cúpula do G20 é a exploração de minerais críticos, essenciais para a transição energética e a tecnologia moderna. O Brasil, detentor da segunda maior reserva de terras raras do mundo, tem enfrentado pressões internacionais, inclusive dos EUA, para liberar a exploração desses recursos.
O Itamaraty destaca que este tópico é uma prioridade para a África do Sul e alinha-se perfeitamente aos interesses dos países em desenvolvimento. A tese defendida é que as nações que possuem esses minerais não devem apenas ter suas terras exploradas por potências desenvolvidas, mas sim beneficiar-se economicamente da cadeia produtiva.
O presidente Lula tem reiterado essa estratégia nos últimos meses, afirmando que o Brasil deseja refinar os minerais críticos em território nacional, agregando valor ao produto, em vez de exportá-los como meras commodities. Dados recentes divulgados pela CNN Money apontam que, se o Brasil investir corretamente na produção e beneficiamento desses minerais, a economia nacional poderá expandir até R$ 243 bilhões nos próximos 25 anos.
Foco na economia e agenda em Moçambique
Para garantir o sucesso da declaração da Cúpula do G20, a estratégia diplomática tem sido evitar temas que possam “contaminar” o debate econômico. Questionado sobre se a tensão entre EUA e Venezuela ou as acusações de narcoterrorismo no Caribe seriam abordadas, o embaixador Fox-Drummond Gough negou. A presidência sul-africana trabalha em uma proposta que simplifica questões políticas, citando conflitos de forma genérica para focar nos consensos financeiros.
Após participar das reuniões do G20 no domingo (23) e encontrar-se com os presidentes da Índia e da África do Sul, Lula seguirá viagem para Moçambique. Lá, participará de um jantar com o chefe de Estado local e, na segunda-feira (24), de um evento empresarial. A visita a Moçambique deve culminar na assinatura de uma série de acordos de cooperação técnica nas áreas de saúde, educação e agricultura, reforçando os laços do Brasil com o continente africano.
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