No Dia Mundial da Água, organizações clamam pela preservação do afluente Igarapé Água Branca de Manaus, o último igarapé urbano limpo da capital amazonense.
O Igarapé Água Branca e a urbanização
O processo de urbanização de Manaus, intensificado desde o início do século XIX, e que perdura nos processos de expansão da capital em meio à floresta, ainda ecoa fortemente na manutenção da vida dos igarapés. Neste Dia Mundial da Água, a Gazeta da Amazônia apresenta o Igarapé Água Branca, um braço do Rio Tarumã, carrega a responsabilidade e a fortaleza de ser o único totalmente limpo em área urbana da capital do Amazonas.
Em um processo cultural, social e de manutenção da infraestrutura, Manaus foi aos poucos dando adeus aos seus igarapés, seja aterrando ou transformando os braços do rio em espaços poluídos.
O presidente da ONG Mata Viva, Jó Farah, é atuante nas ações de manutenção do igarapé Água Branca de forma independente, e falou sobre o que ainda caracteriza o igarapé como sendo plenamente limpo.
“O igarapé Água Branca, além de ter uma água cheia de peixes, e até camarão tem dentro – o que é um bioindicador de qualidade de água pois ele não vive em águas poluídas – e a gente percebe a presença desses animais e também não tem cheiro nenhum, o igarapé é cercado de florestas ainda, desde a nascente até a fonte, então isso indica a qualidade dele e que ele é um igarapé preservado”, afirmou, em entrevista.
Igarapé Água Branca e sua contribuição
O Igarapé Água Branca, segundo a ONG Mata Viva, jorra mais de quatro bilhões de litros de água todos os anos na Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu, que deságua no Rio Negro.
A organização, formada pela sociedade civil, auxilia na limpeza dos resíduos que possam poluir as águas, e também promove ações de conscientização e eventos que promovam a manutenção e sobrevivência do último igarapé urbano da cidade de Manaus.
Políticas e o Poder Público
Farah aponta, ainda, pouca preocupação do poder público com preservação da área.
“Manaus nunca cumpriu nenhuma meta com relação ao saneamento. A cidade tem que dar conta dos seus afluentes. E Manaus hoje é caótico. nós precisamos eh ter política de saneamento realmente eficiente dentro da cidade, preocupadas com a revitalização dos igarapés porque sem revitalizar igarapés não se pode falar em saneamento. Não adianta construir estação de esgoto sem revitalizar o Igarapé e retirar as construções que existem em cima deles.”
Para o presidente da ONG, a educação ambiental vai além das campanhas de conscientização já existentes e promovidas pelo Poder público. É preciso mudar o hábito da população urbana, além de fornecer melhores condições de moradia e saneamento.
“O poder público é o grande culpado de toda essa mazela de falta de educação ambiental. Por que as escolas, por exemplo, não têm na estrutura disciplinar a educação ambiental como base. Essa disciplina deveria ser ensinada desde os primeiros anos, para que a o adulto seja orientado desde a primeira infância”, diz.
Atualmente, através da Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), a Prefeitura realiza limpezas esporádicas dos igarapés urbanos, retirando o excesso de lixo.
Manutenção dos igarapés de Manaus
Além da limpeza dos igarapés, a Prefeitura de Manaus informou que vem adotando outras medidas para melhorar a qualidade de vida da população, como serviço de coleta agendada, Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), a instalação de lixeiras nas ruas e a realização de campanhas de conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Questionada pela Gazeta sobre o Igarapé Água Branca e as iniciativas para preservá-lo, a Semulsp não respondeu até a publicação desta matéria.
Futuro dos Igarapés
Para Farah, preservar os igarapés é transformar todos os dias em Dia da Água, fomentando a pauta, educando a população e cobrando do poder público atitudes que reverberam na construção de um maio ambiente seguro e limpo para as futuras gerações.
“O nosso desejo é que a gente comemore menos o Dia da Água e comemore mais os dias que nós não falamos sobre água. A gente precisa transformar o meio ambiente em uma pauta diária. O Igarapé Água Branca é um contraponto, enquanto todos falam da destruição, falta de saneamento, igarapés podres poluídos, a gente está falando aqui sobre o Igarapé-vivo, protegido e muito importante”” frisou.
Por fim, Farah complementa:
“Não podemos perder uma máquina perfeita como essa que não gasta energia, não custa nada ao poder público, que produz vida só porque a cidade quer crescer do mesmo jeito que sempre cresceu destruindo tudo e sem planejamento nenhum. Então nosso desejo é que o Dia da Água seja todo dia de agora em diante”.
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