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Operação no Rio expõe profundo elo do Comando Vermelho com a Amazônia e rotas de esconderijo da facção

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Uma megaoperação policial deflagrada nesta terça-feira, 28, nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, expôs uma conexão alarmante: o profundo elo entre o Comando Vermelho e a Amazônia. Com cerca de 2.500 policiais civis e militares envolvidos, a ação, já considerada a mais letal da história do Estado, revelou que pelo menos 32 alvos investigados são originários do Pará.

As investigações da Polícia Civil fluminense indicam que esses indivíduos, ligados à facção, buscaram o Rio de Janeiro como refúgio para escapar de crimes diversos em seu estado de origem. No entanto, eles não apenas se esconderam, mas acabaram se tornando atuantes na estrutura do tráfico local.

A ofensiva desta terça-feira transformou as comunidades em cenários de guerra. O Comando Vermelho reagiu de forma coordenada, utilizando drones para lançar bombas contra as forças de segurança. O clima de medo se instalou nas favelas, gerando impactos severos na rotina da cidade, incluindo a interrupção de serviços na Linha Amarela do Metrô e tentativas de bloqueio da estratégica Avenida Brasil.

Segundo o balanço divulgado pela Polícia Civil, mais de 80 suspeitos foram presos durante a operação. Este episódio dramático sublinha o poder crescente do crime organizado no Brasil e a imensa dificuldade do poder público em reprimir o narcotráfico. Os efeitos violentos dessa estrutura afetam desde os grandes centros urbanos até territórios indígenas vulneráveis na Amazônia.

O comando remoto a partir do Rio

A participação de dezenas de paraenses não é coincidência. De acordo com a Polícia Civil do Pará, que colaborou com a inteligência da operação fluminense, os mais de 30 alvos do estado são suspeitos de comandar a criminalidade organizada em sua região de origem à distância, diretamente das bases no Rio de Janeiro.

“Os suspeitos são apontados por envolvimento em diversos crimes, como tráfico de drogas, organização criminosa, homicídios e roubos”, afirmou a pasta paraense em nota. Ainda não há confirmação oficial de quantos desses alvos específicos estão entre os detidos na operação.

A rota Amazônica: o “corredor de exportação” da cocaína

O Pará, como reportagens investigativas já apontaram, assistiu a um avanço significativo do crime organizado nos últimos anos. Enquanto o estado do Amazonas é considerado a principal porta de entrada da droga vinda de países vizinhos, o Pará funciona como um “corredor de exportação” crucial para a cocaína originária do Peru e da Colômbia.

O recrudescimento da violência na região Norte deve-se, em grande parte, à atuação hegemônica do Comando Vermelho, soberano na região metropolitana de Belém, e à expansão do Primeiro Comando da Capital (PCC), que tem formado alianças com facções menores para avançar pelo sul paraense.

A rota amazônica tornou-se um território de disputa intensa após 2016. O assassinato do narcotraficante Jorge Rafaat, conhecido como “Rei da Fronteira”, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, alterou o equilíbrio de poder. Esse evento teria consolidado o domínio do PCC na chamada “rota caipira” (fronteira com o Paraguai), dificultando seu uso por organizações rivais.

Diante desse bloqueio, facções como o Comando Vermelho foram forçadas a buscar novas alternativas logísticas para enviar grandes remessas de cocaína para a Europa, intensificando sua presença e controle sobre as cidades e rios da Amazônia.

Do varejo ao atacado: a estratégia do Comando Vermelho na Amazônia

Para Leonardo Silva, pesquisador sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a presença desses alvos do Pará no Rio demonstra a “capacidade de articulação e de domínio territorial” da facção. O especialista reforça que o Comando Vermelho transcendeu a atuação no varejo de drogas. A facção consolidou-se também no atacado, gerenciando complexas redes logísticas.

“Compram a droga dos países produtores, de Peru, Bolívia e Colômbia, consolidam uma rota para trazer através de Norte e Nordeste, até fazer com que essa droga chegue nos grandes centros consumidores brasileiros, e parte dessa droga seja exportada para diversos países”, explica Silva.

Tecnologia e “narcogarimpo”: a nova fronteira do crime

A sofisticação do crime na região é notável. Reportagens recentes indicam que as facções operam com redes de tecnologia avançada, incluindo o uso de drones de vigilância e internet via satélite (Starlink), para driblar a fiscalização policial e coordenar a importação de grandes carregamentos de cocaína por rios estratégicos, como o Solimões.

Em alguns casos, utilizam até mesmo vias aéreas para o tráfico e outras atividades ilícitas. Especialistas apontam uma perigosa sobreposição de crimes na Amazônia, em dinâmicas como o “narcogarimpo”, onde a mineração ilegal é explorada e financiada por traficantes. As mesmas redes logísticas que protegem o transporte de drogas são usadas para blindar outras atividades criminosas.

Essa complexa ameaça à floresta e à segurança regional é um dos assuntos que ganham força no contexto da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), que ocorrerá em Belém no próximo mês. Diante deste cenário, os governos de estados como Amazonas e Pará têm buscado fechar o cerco, especialmente sobre as rotas fluviais. No ano passado, ambos os estados registraram recordes históricos de apreensões de cocaína e skunk (a “supermaconha”), totalizando mais de 55 toneladas de entorpecentes retirados de circulação.

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