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Criança brasileira tratada com CAR-T Cell completa 1 ano livre do câncer

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Um inovador tratamento CAR-T Cell está se consolidando como uma nova fronteira na luta contra o câncer no Brasil, e para Lorenzzo, um menino de 10 anos de Vila Valério (ES), ele representou a última e mais eficaz esperança. Após uma batalha de seis anos contra a Leucemia Linfocítica Aguda (LLA), duas recaídas e um transplante de medula óssea que não impediu o retorno da doença, Lorenzzo se tornou o primeiro paciente pediátrico a participar de um estudo clínico no Hospital Israelita Einstein, em São Paulo.

Hoje, um ano após o procedimento, ele está em remissão e retomando a infância que a doença lhe tirou. A jornada da família, narrada pela mãe em depoimento ao repórter Bernardo Yoneshigue, revela os desafios do diagnóstico e a importância de novas terapias.

A queda que antecipou o diagnóstico

A luta de Lorenzzo começou de forma inesperada em setembro de 2019. Aos 4 anos, em uma visita à cidade para cortar o cabelo, ele pediu para descer em um escorregador de parquinho pela primeira vez. “Mas quando ele desceu, caiu sentado e, na hora que foi levantar, não conseguiu ficar em pé e começou a reclamar muito de dor nas costas”, relatou a mãe.

Levado ao pronto-socorro, os movimentos voltaram rapidamente. No entanto, as dores na coluna persistiram, seguidas de outros sintomas, como barriga inchada e febre. A família, que mora na zona rural, buscou ajuda diversas vezes, recebendo diagnósticos como gases ou virose.

A situação se agravou em uma noite, levando os pais a procurarem ajuda em Nova Venécia, onde Lorenzzo ficou internado por quatro dias. O pediatra suspeitou de leucemia devido à queda drástica de plaquetas, mas encaminhou o caso para São Mateus, onde ele foi diagnosticado erroneamente com dengue.

Com a piora do quadro e a perda dos movimentos das pernas, Lorenzzo foi transferido para o Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória. “Lá, depois de uma semana de exames, descobrimos finalmente que era uma leucemia linfocítica aguda (LLA). Foi um desespero total, eu estava sozinha com ele lá”, relembrou a mãe.

A longa batalha

O primeiro ciclo de quimioterapias durou até 2022. Foi um período de “muitos altos e baixos”, em que Lorenzzo parou de andar, sentar e emagreceu muito. Quando a família acreditava estar na fase de acompanhamento, veio a primeira recidiva da doença, em junho de 2022.

Um novo tratamento com quimioterapia foi iniciado e, em 2023, a família foi para São Paulo para a realização de um transplante de medula óssea, com o pai como doador. A esperança era que o procedimento, indicado para casos de recidiva, trouxesse a cura definitiva.

“Deu tudo certo na época e acreditávamos que ele tinha sido curado”, disse a mãe. Porém, em abril, um ano após o transplante, a segunda recidiva foi confirmada. “Foi quando o chão se abriu mesmo, porque nossa esperança com o transplante era que a doença não voltasse nunca mais.”

O estudo com tratamento CAR-T Cell

Foi nesse momento de desespero que a médica em Vitória apresentou uma nova possibilidade: um estudo clínico no Hospital Israelita Einstein com a terapia CAR-T Cell, algo que a família nunca tinha ouvido falar.

“A médica explicou e foi uma nova esperança. Saber que, mesmo a quimioterapia e o transplante não tendo funcionado, ainda tínhamos uma nova opção de tratamento que poderia levar meu filho à cura”, contou a mãe.

A família foi novamente para São Paulo, com todos os custos de passagem, transporte e estadia custeados pelo hospital. O procedimento, embora bem-sucedido, teve complicações previstas. Lorenzzo teve uma convulsão e precisou ser intubado na UTI por três dias. “Eu me desesperei muito, nunca tinha visto uma pessoa entubada, e ver logo seu filho nessa situação é muito difícil. Mas no final deu tudo certo.”

O que é a Terapia CAR-T Cell?

O tratamento CAR-T Cell é uma das terapias mais inovadoras contra o câncer de sangue, como leucemias e linfomas. A técnica consiste em uma edição genética das próprias células de defesa do paciente, os linfócitos T.

Funciona como um “autotransplante”: as células T são coletadas do paciente, enviadas a um laboratório, onde são geneticamente modificadas para “aprender” a reconhecer e atacar as células cancerígenas. Essas células modificadas são multiplicadas e, em seguida, reinseridas no paciente para combater a doença.

tratamento CAR-T Cell
Imagem: ilustração

No Brasil, há dois grandes estudos clínicos em andamento com produção nacional da tecnologia, visando sua incorporação futura ao Sistema Único de Saúde (SUS). Um é conduzido pelo Hemocentro de Ribeirão Preto (USP) e o outro é a parceria do Einstein com o Ministério da Saúde (via Proadi-SUS), do qual Lorenzzo fez parte. O estudo do Einstein, iniciado em 2022, testa a terapia em pacientes com linfomas e leucemias em casos de recidiva, e Lorenzzo foi o primeiro paciente pediátrico.

O retorno à vida

Em setembro deste ano, um ano após a terapia, os exames confirmaram que Lorenzzo segue em remissão. Aos 10 anos, ele finalmente pôde retomar os estudos presenciais, após anos com aulas adaptadas em casa.

“Ele falava ‘mãe, eu não posso brincar, não posso jogar bola, não posso tomar sol, não posso nada’”, lembra a mãe. “Só em janeiro desse ano que a médica liberou ele a voltar a fazer tudo”. Recentemente, ele comemorou poder ir à escola para a aula de educação física.

A família segue com acompanhamento mensal em Vitória e está refazendo o calendário vacinal de Lorenzzo, zerado pelo tratamento. A mãe, embora ainda com receios, celebra a alegria do filho, que, segundo ela, “nunca ficou chorão, triste”, mesmo durante as quimioterapias pesadas.

“Se o Lorenzzo não tivesse ido naquele escorregador lá no início talvez tivéssemos demorado para descobrir essa doença e seria tarde demais”, reflete. “Para outras mães nessa situação, eu diria para que não percam a fé.”

*Com informações Agência o Globo

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