A Zona Franca de Manaus (ZFM) está no centro de um intenso debate após a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) rebater veementemente um artigo publicado no jornal Valor Econômico nesta segunda-feira (10). O texto, assinado pelo professor Bruno Carazza, da Fundação Dom Cabral, critica duramente o modelo de incentivos fiscais da ZFM.
O artigo gerou reações imediatas da autarquia federal e de autoridades locais, como o secretário de desenvolvimento do Amazonas, Serafim Corrêa. Os defensores do modelo acusam o professor de apresentar uma visão “distorcida e unilateral”, falhando em reconhecer o papel crucial da ZFM na preservação ambiental da Amazônia.
O ‘Estopim’ da Polêmica: Artigo questiona incentivos e produção de ar-condicionado
O artigo que iniciou a controvérsia, intitulado “COP em Belém e bilhões para ar-condicionado em Manaus”, levanta duas críticas centrais ao modelo de desenvolvimento amazonense.
Primeiramente, Carazza compara os volumes financeiros. Ele aponta que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o governo brasileiro pretende usar para captar recursos internacionais durante a COP30, tem metas de arrecadação inferiores ao volume de recursos que o Brasil, segundo ele, deixa de arrecadar anualmente devido aos incentivos fiscais concedidos à Zona Franca de Manaus.
Em outro trecho sensível, o professor da Fundação Dom Cabral sugere uma incompatibilidade entre a produção industrial de Manaus e os objetivos globais de sustentabilidade. Ele questiona especificamente a fabricação de aparelhos de ar-condicionado no Polo Industrial de Manaus (PIM), insinuando que tal atividade iria contra os esforços de combate às mudanças climáticas que serão debatidos na COP.
Defesa da Zona Franca de Manaus: Suframa rebate “visão distorcida”
A resposta da Suframa foi imediata e enfática. Em nota oficial, a superintendência classificou a análise de Carazza como uma “visão distorcida e unilateral sobre o papel da ZFM e seus incentivos fiscais”.
Para a autarquia, a crítica do professor comete um erro primário ao ignorar o que a Suframa considera o principal ativo do modelo: a proteção ambiental. “Matéria falha ao não reconhecer o principal e inegável papel da ZFM: a preservação da floresta em pé”, declara a nota.
Os defensores da Zona Franca de Manaus argumentam historicamente que a concentração de atividade econômica e geração de empregos na capital amazonense funciona como o principal antídoto contra o desmatamento no estado. A lógica defendida é que o polo industrial oferece uma alternativa econômica robusta, evitando que a população precise recorrer a atividades predatórias, como a agropecuária extensiva, o garimpo ou a exploração ilegal de madeira em áreas de floresta.
Contraponto na COP30: Indústria do Amazonas prepara defesa de práticas ESG
A publicação do artigo de Carazza ocorre em um momento estratégico. Coincidentemente, nesta mesma segunda-feira (10), o Centro da Industria do Estado do Amazonas (Cieam) anunciou uma importante iniciativa ligada à pauta ambiental.
O Cieam, que representa as indústrias do PIM, informou que apresentará na COP30, em Belém, um trabalho detalhado sobre as práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança) desenvolvidas pelas empresas do polo.
A apresentação ocorrerá na “Blue Zone” (Zona Azul) da conferência. Este é o espaço diplomático mais importante do evento, reservado para as negociações oficiais entre chefes de Estado, delegações de países e organismos internacionais. A iniciativa do Cieam é vista como um movimento para demonstrar proativamente que a indústria de Manaus está alinhada às demandas globais de sustentabilidade, buscando validar o modelo perante a comunidade internacional.
Secretário estadual se irrita e rebate articulista
O debate extrapolou a esfera institucional e alcançou o governo estadual. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Sedecti), Serafim Corrêa, gravou um vídeo em tom de forte irritação.
Em sua fala, Corrêa rebateu duramente o articulista do Valor Econômico, usando uma expressão regional para demonstrar seu descontentamento. O secretário sugeriu que Bruno Carazza fosse “catar coquinho”, um regionalismo que significa “vá procurar o que fazer” ou “vá se ocupar com outra coisa”.
A reação de Corrêa evidencia a sensibilidade do tema para o estado, refletindo o sentimento de que as críticas ao modelo ZFM, muitas vezes originadas no eixo Sul-Sudeste, não compreendem as especificidades e a importância estratégica da Zona Franca de Manaus para a manutenção da floresta amazônica.
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