Anunciada pelo Secretário de Guerra, Pete Hegseth, a operação reforça a presença militar no Caribe com o porta-aviões USS Gerald R. Ford e levanta questões sobre possíveis ações diretas na Venezuela.
O governo dos Estados Unidos, sob a administração do presidente Donald Trump, anunciou oficialmente nesta quinta-feira o lançamento de uma nova e robusta operação militar focada na América Latina. Intitulada Operação Lança do Sul, a missão tem como objetivo declarado combater o narcotráfico e o que as autoridades americanas classificam como “narcoterrorismo” no hemisfério.
O anúncio foi feito pelo Secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, por meio de sua conta na rede social X (antigo Twitter). A operação será conduzida em conjunto com o Comando Militar do Sul dos EUA (Southern Command), responsável pelas atividades militares americanas no Caribe, América Central e América do Sul.
“Hoje, estou anunciando a Operação Lança do Sul”, declarou Hegseth. “Liderada pela Força-Tarefa Conjunta Southern Spear e o Comando Militar do Sul, essa missão defende nossa pátria, remove narcoterroristas do nosso hemisfério e protege nossa pátria das drogas que estão matando nosso povo. O hemisfério Ocidental é a vizinhança da América, e nós o protegeremos.”
President Trump ordered action — and the Department of War is delivering.
Today, I’m announcing Operation SOUTHERN SPEAR.
Led by Joint Task Force Southern Spear and @SOUTHCOM, this mission defends our Homeland, removes narco-terrorists from our Hemisphere, and secures our…
— Secretary of War Pete Hegseth (@SecWar) November 13, 2025
Embora o secretário não tenha fornecido detalhes táticos das operações, o anúncio coincide com uma intensificação significativa da presença naval e aérea dos EUA perto da costa da Venezuela, um movimento que o governo de Nicolás Maduro tem repetidamente denunciado como uma preparação para uma eventual invasão.
O reforço militar e a escalada no Caribe
A seriedade da Operação Lança do Sul é sublinhada pelo poder de fogo enviado à região. Nesta semana, o porta-aviões USS Gerald R. Ford, considerado o maior e mais avançado navio de guerra do mundo, chegou às águas próximas da América Latina.
Segundo fontes militares, o navio e seu grupo de ataque darão apoio direto a operações que visam “desmantelar organizações criminosas transnacionais”. Este grupo de ataque se soma a uma presença militar que já inclui diversos navios de guerra, jatos de combate, helicópteros de operações especiais e aeronaves de bombardeio.
Esta campanha militar já demonstra resultados letais. Nos últimos dois meses, ações coordenadas pelos EUA no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico resultaram em ataques a mais de 20 embarcações, incluindo lanchas rápidas e semissubmersíveis. De acordo com o comando americano, essas ações deixaram mais de 75 mortos, todos supostamente ligados a organizações narcoterroristas.
Venezuela: o foco central dos alvos potenciais
Embora a Operação Lança do Sul seja descrita como de âmbito hemisférico, a Venezuela surge como o foco principal das especulações. O próprio presidente Donald Trump sugeriu repetidas vezes que ataques terrestres poderiam ser o próximo passo no combate aos traficantes na região, embora tenha negado nos últimos dias estar considerando uma ação militar iminente dentro do território venezuelano.
A principal justificativa de Washington para focar na Venezuela é a alegação de que Nicolás Maduro e seus principais assessores são, na verdade, líderes de uma organização de narcotráfico chamada Cartel de los Soles. O governo americano classificou o cartel como um grupo narcoterrorista, o que poderia fornecer uma justificativa legal, segundo a ótica da Casa Branca, para atacar diretamente a estrutura de poder de Maduro, numa tentativa de pressioná-lo ou mesmo removê-lo à força.
De acordo com analistas de defesa e ex-oficiais militares, caso Trump decida por ataques terrestres ou aéreos mais profundos, os alvos poderiam variar desde bases militares venezuelanas e laboratórios de refino de cocaína até pistas de pouso clandestinas e acampamentos de guerrilheiros.
Análise: o dilema de um ataque
Jim Stavridis, um almirante aposentado do Exército dos EUA que supervisionou as operações do Comando Sul entre 2006 e 2009, analisou o cenário. Segundo ele, as Forças Armadas da Venezuela “atrofiaram” nos últimos anos, mas ainda possuem armamento e capacidade suficientes para tornar improvável que o governo Trump ordene uma incursão terrestre em larga escala.
“Espere por ataques cinéticos de precisão contra alvos relacionados ao narcotráfico e à capacidade militar e, se isso não surtir o efeito desejado, contra a liderança”, disse Stavridis. “Acho que o objetivo aqui é convencer Maduro de que seus dias estão contados, mas convencê-lo disso exigirá uma quantidade considerável de ataques contra a infraestrutura da Venezuela.”
Stavridis aponta que, se Maduro se entrincheirar, o governo Trump ficará diante da difícil decisão de escalar os ataques contra a segurança pessoal do líder venezuelano ou autorizar uma missão de Operações Especiais de alto risco para capturá-lo ou matá-lo.
Fontes anônimas, incluindo ex-agentes da DEA (agência antidrogas dos EUA) e ex-capitães do exército venezuelano agora no exílio, detalharam alvos prováveis. Os EUA poderiam começar com ataques a aeroportos e portos marítimos usados para distribuição de drogas, ou pontos de embarque perto da fronteira com a Colômbia.
Para proteger suas próprias aeronaves, o Pentágono também precisaria neutralizar as defesas aéreas venezuelanas. Pistas de pouso clandestinas, como as dos estados de Apure e Catatumbo, e grandes depósitos de drogas no estado de Sucre, também seriam alvos primários. Se o objetivo for atingir o núcleo do regime, a poderosa Direção-Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) seria um alvo estratégico.
A capacidade de resposta de Maduro
Do outro lado, as Forças Armadas da Venezuela, embora enfraquecidas, são bem armadas, em grande parte devido a compras feitas durante o governo de Hugo Chávez. Acredita-se que o arsenal inclua o sistema de defesa aérea S-300VM, de fabricação russa.
No entanto, Andrei Serbin Pont, do grupo de pesquisa latino-americano CRIES, afirma que esse sistema está apenas parcialmente operacional e nunca foi projetado para um conflito contra os Estados Unidos.
O Global Firepower estima que a Venezuela tenha 109.000 militares na ativa, mas um ex-oficial militar venezuelano, falando anonimamente, disse que esse número é provavelmente menor e que a capacidade aérea é mínima, com menos de cinco caças Sukhoi russos em operação em 2018. Ele argumentou que Maduro não possui capacidade militar nem apoio popular para sustentar uma guerra. “Não estou dizendo que não haverá resistência”, disse ele, “mas não será um ataque contra as forças americanas”.
O objetivo final: drogas ou mudança de regime?
Apesar da retórica robusta da Operação Lança do Sul, há um ceticismo considerável, mesmo dentro dos EUA, sobre seus objetivos reais e sua eficácia.
Autoridades americanas, atuais e antigas, familiarizadas com a região, afirmam que é improvável que ataques na Venezuela mudem significativamente o comércio de drogas com os EUA. Um general aposentado, falando sob anonimato, foi direto: “A ideia de que se vai interromper o fluxo de drogas atacando a Venezuela é pura balela”. Ele explicou que o tráfico proveniente da Venezuela é majoritariamente de cocaína produzida na Colômbia e destinada à Europa ou outras ilhas do Caribe, não aos EUA.
Documentos internos do governo dos EUA, obtidos pelo The Washington Post, revelam que diplomatas americanos foram informados por figuras da oposição venezuelana e analistas que, embora Maduro esteja preocupado, ele acredita que pode superar as tensões. Esses observadores descartaram a ideia de que ataques dos EUA levariam os militares venezuelanos a se voltarem contra o líder.
Em uma reunião confidencial recente com membros do Congresso, o Secretário de Estado Marco Rubio e o Secretário de Defesa Pete Hegseth teriam afirmado que o governo não está se preparando para atacar a Venezuela diretamente e que carece de uma justificativa legal clara para fazê-lo.
Um funcionário americano familiarizado com as deliberações disse não ter certeza se Trump realmente autorizará ataques na Venezuela. Ele sugeriu que, assim como em outras ações militares de Trump, o presidente pode simplesmente declarar vitória abruptamente e seguir em frente.
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