Maceió tem enfrentado dias de tensão diante do iminente colapso em uma das minas de sal-gema exploradas pela petroquímica Braskem no bairro do Mustange. Na última quarta-feira (29), a prefeitura da capital alagoana decretou situação de emergência em decorrência do avanço no afundamento da região. Esse é mais um episódio em uma sequência de eventos que começou em 2018, quando afundamentos foram registrados em cinco bairros, resultando na mudança de aproximadamente 60 mil moradores.
O risco iminente de colapso em uma das 35 minas de responsabilidade da Braskem tem sido monitorado pela Defesa Civil de Maceió. A empresa reconhece a possibilidade de um grande desabamento na área, e emitiu um alerta para a potencial abertura de uma cratera do tamanho do Maracanã, com impactos que incluem tremores de terra que poderão ser sentidos em toda a cidade.
Mesmo assim, a Braskem afirma que existe também a possibilidade de que o solo se acomode gradualmente até a estabilização. As consequências precisas desse deslocamento de terra ainda são incertas.
História da Braskem em Maceió
A exploração do sal-gema em Maceió iniciou-se em 1976 pela empresa Salgema Indústrias Químicas, que foi estatizada, privatizada, e, em 1996, passou a se chamar Trikem. Em 2002, após uma fusão com outras empresas menores, tornou-se a Braskem, com controle majoritário do Grupo Novonor e participação acionária da Petrobras.
A Braskem é atualmente a maior produtora de PVC do continente americano, atendendo não apenas ao mercado nacional, mas também a outros países como Estados Unidos, México e Alemanha. Somente em Maceió, a empresa perfurou 35 minas de sal-gema.
Afundamento de terra
O método utilizado pela empresa e a falta de aplicação de medidas de segurança foram alguns dos fatores causaram o desastre ambiental visto na capital alagoana. A extração do sal-gema pela Braskem era feita por meio da escavação de poços até a camada de sal — a cerca de 1200m da superfície, uma altura equivalente a cerca de 40 prédios de 10 andares — que então eram preenchidos com água o suficiente para dissolver a camada de sal, formando uma solução que era sugada por um sistema de aplicação de presão.
O problema com essa técnica é que, no território de Maceió, o sal-gema é uma camada espessa do solo. Com a retirada do minério, o que fica para trás é um espaço vazio que torna o terreno instável. Para mitigar este problema, a Braskem preencheu o espaço de onde o sal-gema foi retirado com um fluído para manter a estabilidade das demais camadas do solo.
Entretanto, com o passar do tempo, vazamentos foram sendo identificados principalmente nos arredores da mina 18, uma das 9 em que o fluído estabilizador havia sido aplicado. Com isso, as camadas mais acima do solo começaram a ceder.
As atividades da Braskem foram interrompidas em 2019, após uma crescente observação de tremores e afundamentos de terra visíveis nas regiões onde a mineração era realizada.
Contexto atual
Somente em novembro de 2023, foram registrados 5 tremores de terra em Maceió, como consequência do deslocamento da terra nas regiões afetadas. Entre os dias 28 e 30 de novembro, o índice de afundamento chegou a 64cm por dia, chegando a quase 2m em 72 horas.
Pelas redes sociais, a Defesa Civil de Maceió passou uma série de recomendações a serem seguidas pela população que mora próximo às áreas de risco:
- Mantenha a calma, pois a área de risco está isolada e sinalizada;
- Mantenha-se afastado das áreas isoladas;
- Não navegue pelas proximidades do Mutange;
- Não pratique atividades de pesca próximo ao Mutange;
- Não utilize drones sem autorização dos órgãos competentes;
- Não se aproxime de barreiras nas áreas isoladas;
- Busque informações de fontes oficiais;
- Não publique, nem compartilhe fake news.
No dia 29 de novembro, a Defesa Civil emitiu um aviso via SMS para a população das proximidades do bairro do Mutange, avisando que o risco de colapso era iminente e que qualquer pessoa na região deveria procurar um local seguro.
Já na última sexta-feira (1), a Defesa Civil lançou uma nota informando sobre o registro de um abalo sísmico com magnitude de 0,39Ml a uma profundidade de 330 metros. De acordo com o órgão, três sensores instalados na região do antigo campo do CSA, localizado no bairro do Mutange, continuam apresentando alertas de movimentação.
O comunicado destaca que o Centro de Monitoramento permanece em alerta máximo e constante, devido ao risco iminente de colapso na mina 18 da Braskem.
“Por precaução, a recomendação é clara: a população não deve transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil, enquanto medidas de controle e monitoramento são aplicadas para reduzir o perigo”, disse a Defesa Civil. “A equipe de análise da Defesa Civil ressalta que essas informações são baseadas em dados contínuos, incluindo análises sísmicas”.
Prefeitura responsabiliza Braskem
O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, conhecido popularmente como JHC (PL), atribui à Braskem a total responsabilidade pela situação. “A empresa Braskem começou a operar em Maceió na década de 1970. De lá pra cá, essa exploração predatória continuou de forma agressiva. Faltou fiscalização por parte dos órgãos competentes de maneira mais contundente.”
Segundo JHC, “a municipalidade não tem competência direta sobre autorizações e fiscalizações da atividade da Braskem e, por isso, o município também acaba sendo vítima de toda essa tragédia. Agora precisamos agir diariamente para poder mitigar todos os danos.”
Prefeitura de Maceió decretou emergência
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