Se você vive em um modelo de lar padrão da sociedade brasileira, provavelmente foi uma mulher quem preparou o seu café da manhã hoje. E, provavelmente, foi uma mulher quem lavou e passou as roupas que você está vestindo. Quando você retornar ao seu lar hoje, após um dia de trabalho fora, se a casa estiver limpa, provavelmente foi uma mulher quem a limpou. E se você ficar doente, provavelmente será uma mulher quem cuidará de você em casa ou em um hospital. Para que você esteja com o seu bem estar e cuidados em dia, muito provavelmente existe uma mulher por trás disso.
E até existe um termo para essa missão diária e um tanto quanto desafiadora: Trata-se da “economia do cuidado”, que, em síntese, é traduzida pela gestão doméstica de uma casa, a limpeza de seus cômodos, o preparo das refeições, a lavagem das roupas, o cuidado com os filhos, dentre outras tantas tarefas indispensáveis para o bem estar das famílias, que são vistas como atividades a serem encabeçadas e de responsabilidade das mulheres.
O fato é que – não é preciso de comprovação científica para tanto – certamente essa mesma mulher não tem e nem terá a visibilidade ou o reconhecimento merecidos do trabalho que exerce em seu lar ou em cada lugar por onde ela passa como aconteceria se quem exercesse essas mesmas tarefas fossem os homens.
É justamente sobre isso que tratou o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nesse ano de 2023, que foi: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
O ENEM acertou em cheio ao trazer à tona a invisibilidade deste trabalho realizado pelas mulheres em nosso país, tema que raramente atrai os holofotes que merece. A economia do cuidado é invisível e indiscutivelmente atrelada ao gênero feminino. É uma obrigação imposta às mulheres, foi construída desde os primórdios, transformada em tradição e abraçada pela sociedade de forma indiscutível.
Essas tarefas desempenhadas diariamente pelas mulheres são um alicerce sobre o qual construímos nossas vidas e nossos sonhos. Afinal, é o trabalho de cuidado tão invisível e tão desvalorizando, visto como algo tão corriqueiro e banal, que permite que todos os membros da família estejam prontos e confortáveis para buscar suas ambições e objetivos.
É essencial ter a consciência de compartilhar igualmente as responsabilidades dentro de casa e buscar desafiar estereótipos de gênero que perpetuam a desigualdade. O ENEM cumpriu o seu papel de descortinar e trazer à tona um assunto há muito irretocável, pois visto como “normal” e que “será sempre assim”. Cabe aos demais setores da sociedade continuar o debate em questão. Juntos, podemos garantir que ninguém tenha sua jornada invisível de trabalho negligenciada.
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