O mar avança sobre o Rio Amazonas e está contaminando a água doce usada por comunidades ribeirinhas no Amapá, segundo estudos realizados desde 2023 pelo Observatório Popular do Mar (Omara). Os resultados foram apresentados durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Macapá, e apontam para um fenômeno crescente de salinização da água na região do arquipélago do Bailique.
A pesquisa foi conduzida por cientistas do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa) e da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), que identificaram o avanço do Oceano Atlântico sobre o delta do Rio Amazonas, afetando diretamente o abastecimento das comunidades ribeirinhas.
Fenômeno de salinização ameaça água potável no Bailique
Os pesquisadores destacam que a salinização da água deixou de ser um fenômeno sazonal e passou a ocorrer durante todo o ano. O problema, que antes se restringia ao período da seca, tem sido intensificado pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas, agravando a escassez de água potável para cerca de 52 comunidades da região.
“Antes, a água potável estava na porta de casa. Agora, tudo mudou”, relatou o pesquisador Nataliel Rangel, ao apresentar uma maquete representando as comunidades afetadas no Bailique.
De acordo com o estudo, o avanço do mar altera não apenas a qualidade da água, mas também a vida cotidiana dos moradores, que agora dependem de soluções emergenciais para ter acesso à água potável.
Soluções paliativas e desafios locais
Como resposta imediata à crise, o governo do Amapá instalou uma máquina de dessalinização capaz de produzir até 3 mil litros de água por dia. No entanto, os pesquisadores afirmam que a medida é insuficiente para atender à demanda das comunidades, sendo considerada apenas uma solução paliativa.
O projeto Omara, que monitora a costa amazônica por meio de 11 estações de observação, tem buscado dados científicos para orientar políticas públicas de mitigação e adaptação. A iniciativa utiliza tecnologia adaptada do sistema australiano CoastSnap, com o objetivo de acompanhar a dinâmica costeira e oferecer soluções locais para o avanço do mar.
“Estudar o mar do Rio de Janeiro é bem diferente do Rio Amazonas. Precisamos de dados locais e soluções práticas”, explicou Rangel, destacando a necessidade de pesquisas específicas para a região amazônica, onde a mistura entre água doce e salgada apresenta desafios únicos.
Impactos ambientais e sociais
A coordenadora do Omara, Janaina Calado, alerta que o fenômeno de salinização do Rio Amazonas tem impacto direto sobre o clima regional e o modo de vida das populações ribeirinhas.
“O mar determina a quantidade de chuva e interfere na dinâmica dos rios. Entender essa relação é essencial para preservar o território e garantir a segurança hídrica”, afirmou Calado.
Os pesquisadores alertam que, se o ritmo atual de avanço continuar, o equilíbrio ecológico da foz do Amazonas pode sofrer mudanças irreversíveis nas próximas décadas, comprometendo ecossistemas, pesca, agricultura e abastecimento de comunidades inteiras.
Ciência e monitoramento contínuo
O Observatório Popular do Mar (Omara) pretende expandir o número de estações de monitoramento e integrar os dados coletados às redes de pesquisa nacional e internacional, fortalecendo a compreensão sobre os efeitos das mudanças climáticas na Amazônia costeira.
A equipe do projeto reforça que o avanço do mar sobre o Rio Amazonas é um sinal de alerta sobre os impactos climáticos globais e a vulnerabilidade das comunidades amazônicas. Os estudos servirão de base para políticas públicas voltadas à adaptação e mitigação ambiental, com foco em proteger tanto o meio ambiente quanto as populações afetadas.
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