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Queimadas às margens da BR-319 assolam comunidades indígenas

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A comunidade Camuti, na aldeia Tauari, em Autazes, Amazonas, tem vivenciado uma luta incansável contra queimadas que têm devastado suas terras e recursos naturais. A estiagem nos rios do Amazonas tem secado os cursos d’água na aldeia, agravando ainda mais a situação.

Com a estiagem atingindo níveis históricos nos rios da região, os corpos d’água secaram na aldeia, enquanto a falta de estrutura e planejamento para enfrentar os incêndios florestais e a estiagem tornaram-se problemas sazonais em grande parte do estado.

Emergência ambiental devido a queimadas

Desde julho, incêndios florestais têm varrido a região, com a densa fumaça invadindo comunidades rurais e urbanas ao redor da rodovia. Em 12 de setembro, o governo do Amazonas declarou estado de emergência ambiental nas áreas afetadas pelos incêndios, incluindo o arco do fogo e a região metropolitana de Manaus. Municípios como Lábrea, Manicoré e Humaitá, localizados na área de influência e expansão do desmatamento causado pela BR-319, foram incluídos no decreto. No entanto, cidades como Autazes, que também têm enfrentado incêndios, não foram contempladas.

Ao longo do percurso que sai de Manaus e passa pelos municípios de Careiro da Várzea, Manaquiri e Autazes, os rios, lagos e igarapés estão secos, e a vegetação foi consumida pelo fogo. O odor da fumaça persiste, mesmo após o fim das chamas, irritando os olhos e as gargantas dos que transitam pela BR-319.

Autazes registrou um aumento significativo nos focos de incêndio em setembro de 2023, com 223 focos até o momento, em comparação com 132 no mesmo mês em 2022. No ano passado, o município registrou um total de 256 focos de incêndio, enquanto em 2023 já são 488.

41,5 mil campos de futebol queimados

Segundo dados do sistema Alarmes do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ (Lasa/UFRJ), estima-se que Autazes tenha queimado uma área equivalente a 41,5 mil campos de futebol até o momento. Esse valor representa um aumento de 248% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando cerca de 11,9 mil campos de futebol foram afetados pelo fogo.

Nas comunidades indígenas muras ao longo do ramal Novo Céu, a angústia de salvar casas, animais, plantações e vidas é evidente. Maria Pantoja relata que teve que buscar refúgio na aldeia vizinha de Terra Preta, onde moram parentes, devido ao fogo intenso, mesmo tendo sua casa de palha protegida com água. O incêndio perdurou quase duas semanas, de acordo com a indígena.

A comunidade não conseguiu evitar a perda de sua estrutura de reuniões, conhecida como “chapéu de palha”, que havia sido construída cerca de um ano antes, e de sua plantação de mandioca, destinada à produção de farinha. Nem mesmo a cerca que delimitava o território, com uma placa da Funai, escapou das chamas.

A indígena mura Ana Rita Gonçalves de Andrade, de 32 anos, afirma que a queima da roça afeta a todos na comunidade, pois as plantações eram utilizadas tanto para venda como para consumo próprio.

“Encontramos garrafas de cerveja ao longo da estrada. Não sabemos quem está causando os incêndios, mas quem está sofrendo as consequências é quem depende da terra para sobreviver. Perdemos nossas plantações de mandioca, cará, banana, abacaxi. A única razão pela qual não é pior é porque temos o Bolsa Família”, disse.

Na comunidade Ramal do Tauari, também na aldeia Tauari, outro grupo de indígenas muras observa a fumaça e as brasas que parecem querer reacender em uma área queimada poucos dias atrás.

“Estamos lutando contra isso há um mês. Não conseguimos dormir, mal temos tempo para comer. Os bombeiros vieram apenas uma vez. Na floresta, eles não conseguem atuar, então, somos nós mesmos, com a ajuda de Deus”, afirma Cleide Mura.

Esforços da comunidade para conter os incêndios

Ela relata que os indígenas utilizaram um grupo de WhatsApp para pedir socorro e que a união da comunidade foi fundamental para evitar danos ainda maiores. As mulheres correram com vassouras e ciscadores para criar aceiros, áreas sem vegetação, enquanto os homens carregavam baldes e bombas de água nas costas.

O coordenador da Funai Manaus, Emílson Munduruku, enfatiza a necessidade de investigar as causas dos incêndios na região. Ele aponta as mudanças climáticas e o hábito de queimar roçados e lixo por parte de indígenas e ribeirinhos como possíveis causas. Além disso, não descarta o interesse por terras devido à proximidade com a BR-319 e a um projeto de exploração de potássio na região.

“A Funai tem liderado os esforços, colaborando com outros órgãos e parceiros, para combater os incêndios nas terras indígenas”, afirma Munduruku.

Além da área de influência da BR-319, a Terra Indígena Andirá-Marau, localizada entre os estados do Pará e do Amazonas, é o terceiro território com o maior número de focos de incêndio (332) em 2023, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os dois primeiros estão no Tocantins: a TI Parque do Araguaia (1020) e a TI Inawebohona (508).

Na aldeia Simão, na TI Andirá-Marau, os indígenas, inicialmente sem apoio do Estado, conseguiram controlar o fogo após receberem treinamento de um brigadista financiado por voluntários da cidade de Barreirinha (AM). Posteriormente, receberam apoio do Ibama e de órgãos estaduais.

A situação das comunidades afetadas pelos incêndios florestais no Amazonas permanece crítica, exigindo ações coordenadas para enfrentar os desafios ambientais e sociais decorrentes desses eventos.

*Com informações da Folhapress

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