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Como a Amazônia se tornou estratégica na expansão do Comando Vermelho

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A recente ofensiva policial no Rio de Janeiro reacendeu a atenção para o avanço do Comando Vermelho (CV), a facção criminosa mais antiga do país, que hoje amplia sua atuação para áreas estratégicas, como a Amazônia. A região, com vastas fronteiras e rotas fluviais, passou a ser um ponto-chave para o tráfico de drogas, atividade central da organização. O grupo também tem ampliado presença em outros estados, reforçando seu poder nacional.

A facção, que nasceu dentro de presídios fluminenses na década de 1970, tem se expandido nas últimas décadas. De acordo com levantamentos recentes, o Comando Vermelho passou a atuar em 25 estados brasileiros antes, seu domínio se estendia por apenas 10. Essa expansão está relacionada ao fortalecimento de rotas do tráfico e ao domínio de fronteiras estratégicas, especialmente na Amazônia, onde o CV disputa espaço com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Operação mais letal da história do Rio

A escalada da violência foi evidenciada pela Operação Contenção, realizada pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro. A ação, considerada a mais violenta da história do estado, teve como objetivo cumprir cem mandados de prisão e conter o avanço do Comando Vermelho.

Por volta das 14h da terça-feira (28), o número de mortos chegou a 132. O caos se espalhou rapidamente: tiroteios, vias bloqueadas, lojas fechadas e transporte público lotado marcaram o dia. O epicentro da operação foi nos complexos da Penha e do Alemão, mas os reflexos atingiram toda a capital.

Cerca de 2,5 mil agentes participaram da ação, que também resultou na apreensão de mais de 100 fuzis e na prisão de 81 suspeitos.

Raízes dentro dos presídios

A origem do Comando Vermelho remonta à década de 1970, no Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande, quando presos comuns passaram a conviver com presos políticos durante a ditadura militar. Essa convivência resultou em um grupo que buscava melhores condições carcerárias e estabeleceu suas próprias regras de convivência.

Segundo a socióloga Carolina Grillo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), “o Comando Vermelho nasce no interior dos presídios, na convivência com pessoas presas pela Lei de Segurança Nacional. Inicialmente, foi chamado de Falange da Segurança Nacional, depois Falange Vermelha, até ser batizado pela imprensa como Comando Vermelho”.

Entre seus fundadores estava William da Silva Lima, conhecido como “Professor”. Em seu livro 400 x 1 – Uma história do Comando Vermelho, ele relata que o grupo foi criado para organizar a vida dentro das prisões.

Com a Lei da Anistia, em 1979, os presos políticos foram libertados, mas os criminosos comuns permaneceram. Sem o apoio dos antigos companheiros, o grupo passou a se reorganizar. Na década de 1980, iniciou uma série de fugas mais de cem detentos escaparam e migrou para o tráfico de drogas, aproveitando o momento em que a Colômbia se tornava produtora de cocaína.

Do tráfico ao domínio territorial

Com o dinheiro vindo dos assaltos a bancos, o Comando Vermelho investiu no comércio de entorpecentes e consolidou o tráfico como principal fonte de renda. A necessidade de proteger as rotas e as mercadorias levou ao aumento do poder de fogo da facção.

“A garantia da posse das drogas exige armamento, já que não há como recorrer à polícia em caso de roubo”, explica a pesquisadora Jacqueline Muniz, do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos.

Nos anos 1990, o Rio de Janeiro enfrentou um dos períodos mais violentos de sua história, com índices de homicídios recordes. Na tentativa de enfraquecer o grupo, o governo transferiu líderes do CV para diferentes presídios, mas a estratégia teve efeito contrário: a facção se espalhou ainda mais pelo sistema carcerário.

Expansão nacional e estrutura descentralizada

Segundo o jornalista Rafael Soares, autor de Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele, o Comando Vermelho cresceu adotando uma estrutura de “franquias”, na qual cada líder controla seu território de forma autônoma.

“O CV funciona como uma sociedade, sem hierarquia única, o que permitiu sua expansão nacional”, explica Soares.

Pesquisadores destacam que a política de transferência de lideranças para presídios federais em outros estados acabou fortalecendo a comunicação entre facções, ampliando a presença do CV fora do Rio.

Hoje, o Comando Vermelho mantém influência crescente em diversas regiões do país, com foco especial na Amazônia, onde o controle de fronteiras se tornou estratégico para o tráfico internacional de drogas.

*Com informações do G1

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