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Lenda de cidade perdida na Amazônia é desmentida por arqueólogo

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No ano passado, viralizou nas redes sociais, em especial no antigo “Twitter”, a existência de uma suposta cidade perdida na Amazônia, que teria sido construída por extraterrestres, chamada “Ratanabá”. O assunto veio à tona quando o site “Dakila Pesquisas”, instituto sem qualquer vínculo com universidades ou órgãos de pesquisas oficiais e que defende, ainda, ideias como a Terra plana e se posiciona contra as vacinas, divulgou matéria na qual afirmava que pesquisadores teriam sobrevoado a cidade.

Na divulgação da notícia, consta que duas aeronaves foram utilizadas para o sobrevoo em Ratanabá, estando a bordo Urandir Fernandes de Oliveira, CEO da holfing company Ecossistema Dakila, juntamente com a pesquisadora Fernanda Lima. O site afirmou que Ratanabá era a capital do mundo há mais de 450 milhões de anos e que havia sido fundada pela civilização Muril, que teria sido a primeira a habitar a Terra, há 600 milhões de anos. A matéria informa, ainda, que hoje a cidade estaria submersa entre três pirâmides na região entre o Amazonas, Pará e Mato Grosso, que seria “maior que a Grande São Paulo”, conhecida como “a capital do mundo” e repleta de “muita riqueza, como esculturas de ouro e tecnologias avançadas de nossos ancestrais”.

Os conspiradores foram além, criando teorias que ligam inclusive os assassinatos do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, ocorridos em 2022, à referida descoberta.

Informações não fazem sentido

De acordo com o arqueólogo Eduardo Goés Neves, professor do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos do Museu de Arqueologia e Etnologia da mesma instituição, que integra uma rede de pesquisadores sobre o passado da Amazônia e seus povos, “tudo isso é um delírio” e um “desserviço à arqueologia”.

O arqueólogo ressalta que existem sim evidências de sítios de grande dimensão, estradas e aterros construídos há muito tempo, mas que não é o caso de Ratanabá.

Evidências científicas de que Ratanabá não existiu

Primeiramente, ao afirmarem a existência da cidade perdida, dizem que ela teria existido há 350, 450 ou até 600 milhões de anos. Ocorre que sequer os dinossauros existiam há 350 milhões de anos.

O próprio Homo sapiens sapiens surgiu há 350 mil anos na África, o que revela que existe um erro de pelo menos 349.650.000 anos na matéria.

“Se alguém falasse que existiram cidades na Amazônia há 3.500 anos eu até pensaria que essa era uma questão para tentar entender melhor e pesquisar. Agora, uma civilização há 350 milhões de anos? Não existe a menor possibilidade disso”, ressalta o arqueólogo.

Tamanho da cidade perdida não condiz com a realidade

Outro “furo” da suposta descoberta seria o tamanho de Ratanabá, que supostamente seria maior que a Grande São Paulo. Ocorre que, no século 16, as cidades mais populosas do mundo eram Istambul, na Turquia, e Tenochtitlán, no México, que possuíam no máximo 200 mil habitantes. A Grande São Paulo possui cerca de 22 milhões de habitantes, ou seja, é inviável que Ratanabá tivesse número superior a esse em população e, consequentemente, tivesse uma extensão territorial maior que SP.

Linhas retas na selva são desmistificadas

Quanto às imagens aéreas que mostram linhas retas visíveis entre as copas das árvores na Amazônia, conforme os boatos, seriam fruto de trabalho humano e seriam túneis com passagens secretas para diversos lugares do mundo inteiro, para que grandes líderes pudessem se encontrar e discutir o destino da riqueza da Amazônia. 

O arqueólogo desmistifica as suposições e explica:  “As imagens divulgadas provavelmente vêm da região do Forte Príncipe da Beira, em Rondônia, que era um posto colonial português.” Sobre as linhas perfeitamente retas, ele prossegue:

“Essas formações são conhecidas há muito tempo e realmente parecem linhas perpendiculares, o que é uma coisa incomum. As principais suspeitas são de que seja uma formação natural de calcário ou algum tipo de rocha que segue esse padrão. É improvável que aquilo seja de autoria humana. Mas, caso realmente tenha sido feito pelos povos locais, essas construções não devem ter mais do que 2,5 mil anos”.

Apenas uma fake news

São várias as evidências que comprovam que Ratanabá não é uma cidade perdida, desaparecida há milhões de anos. Foi a conclusão a que chegaram os pesquisadores sobre o assunto.

O Painel Científico para a Amazônia, uma publicação coordenada pela Organização das Nações Unidas (ONU), editou um capítulo sobre os povos da Amazônia antes da chegada dos europeus e concluiu que a floresta é ocupada pelos povos indígenas há 12 mil anos.

A teoria proposta pela Dakila Pesquisas, portanto, não encontrou embasamento em estudos acadêmicos, arqueológicos ou geológicos, tampouco em pesquisas científicas, sendo mais uma espécie de “fake news” dos últimos tempos.

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