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A volta dos carros populares no Brasil; entenda os pontos em discussão

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O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) deve anunciar um plano de incentivo à indústria que terá como foco a “volta dos carros populares”. O anúncio deve ser feito nesta quinta, 25 de maio, em um evento de comemoração do Dia da Indústria na sede da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), em São Paulo-SP.

O objetivo do Governo Federal é baixar os preços de modelos populares como o Renault Kwid, Volkswagen Polo, Chevrolet Onix, Fiat Mobi e outros automóveis com motor 1.0 para um patamar entre R$50 mil e R$60 mil. Para isso, serão feitos ajustes na cobrança de impostos como o IPI e o ICMS, pagamento de subsídios nos juros de financiamento e a medida mais polêmica do plano: a simplificação dos carros.

Este último ponto é o que tem trazido mais problemas para o Governo Federal, uma vez que as principais montadoras de automóveis do mercado brasileiro afirmam que é inviável diminuir o preço dos carros e ao mesmo tempo manter os mesmos padrões de tecnologia e conforto. A retirada de acessórios “desnecessários” e itens de conforto seria necessária para que os automóveis alcançassem a alíquota prevista pelo Governo, mas as montadoras ainda avaliam se a medida valeria a pena.

“Simplificação” dos automóveis

O professor Mauro Silva, industriário especialista no ramo automobilístico com 20 anos de experiência na Zona Franca de Manaus, diz que seria difícil convencer os consumidores de que a retirada de itens de conforto dos automóveis seria benéfica.

“É necessário? É. Mas hoje em dia, o consumidor não quer retrocesso. Não tem como voltar atrás numa evolução. Se eu vou numa loja comprar uma TV, dificilmente eu vou escolher um modelo daqueles com um tubo enorme atrás por ser mais barato quando existem modelos de TV Smart, ultrafino, com imagem 4K”, disse o professor ao justificar que o consumidor prefere pagar por produtos que ofereçam todas as utilidades, mesmo que mais caros que a média.

Por conta disso, o Governo Federal deve apostar mais firmemente em medidas de diminuição de juros e ampliação do tempo de pagamento de parcelas, tornando o parcelamento em 72 vezes o novo padrão do mercado. Entretanto, um consenso ainda não foi alcançado, levando o ministro do Desenvolvimento e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, a considerar um adiamento do anúncio do plano de incentivo.

Brasil em crise

O plano de medidas chega em um momento de crise no setor automobilístico. O poder de compra dos brasileiros caiu com a crise econômica que assola o país desde 2020. Com a disparada de preços de bens permanentes e a queda da renda do brasileiro médio, muitas fábricas foram fechadas com estoques parados e máquinas ociosas.

A Volkswagen, uma das maiores montadoras do país, anunciou em fevereiro a paralização de todas as suas fábricas ainda em funcionamento do Brasil, além de conceder férias forçadas para seus trabalhadores.

A empresa alemã não é a única a tomar medidas drásticas perante a crise: outras montadoras como a General Motors, Ford e Honda também apresentaram medidas semelhantes após um período de vendas diminuídas e baixa na produção. O professor Mauro Silva diz que a derrocada da indústria automobilística no Brasil foi um efeito em cadeia.

“As montadoras aqui no Brasil estavam acostumadas a dar uma atenção maior no volume de produção e negligenciar a rentabilidade. Como o valor de grande parte das peças aumentou nos últimos anos, houve um primeiro momento em que as empresas naturalmente subiram o valor para manter o ritmo da produção e deixaram pra trás a rentabilidade do produto. O que aconteceu depois foi um efeito em cadeia. As compras de carros despencaram, devido à queda da renda da população, o que levou a indústria a ser forçada a diminuir também o ritmo da produção, o que por sua vez aumentou ainda mais os preços”, explicou.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, analisa o plano com incerteza. Segundo o ministro, os problemas que levaram à crise dos carros populares do Brasil não foram causados somente pelo estado da indústria, mas também da crise de emprego que levou à queda da renda média dos brasileiros. Para que a questão seja resolvida de forma permanente, é necessário que seja feito um investimento de estimulação de empregos com remuneração digna, o que aumentaria o poder de compra de bens permanentes da população.

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