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Montadoras alertam Lula: pacote pró-China pode gerar desemprego

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Presidentes de Volkswagen, Toyota, Stellantis e General Motors enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertando que a aprovação de benefícios fiscais à indústria automotiva chinesa pode resultar em demissões em massa, queda na produção nacional e revisão dos investimentos previstos para os próximos anos.

A carta foi encaminhada no último dia 15 de julho, em meio à expectativa para a reunião extraordinária do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), marcada para esta quarta-feira (30), que deve analisar pedidos da fabricante chinesa BYD. O colegiado reúne representantes de 11 ministérios.

Pleito da BYD e proposta de redução de impostos

Em fevereiro, a BYD solicitou ao governo federal a redução da alíquota de importação para automóveis semimontados (SKD) e desmontados (CKD). A proposta inclui diminuir a tarifa de 20% para 10% nos carros híbridos e de 18% para 5% nos elétricos.

Segundo as montadoras brasileiras, aprovar o incentivo à importação desses veículos para montagem final no país representaria um retrocesso no modelo de industrialização, diminuindo a participação nacional no processo produtivo, a demanda por autopeças e a geração de empregos no setor.

Peso da indústria automotiva no Brasil

Na carta, as empresas destacam que o setor responde por 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e 20% do PIB da indústria de transformação, empregando 1,3 milhão de pessoas e movimentando US$ 74,7 bilhões por ano.

O documento também reforça que as fabricantes planejam investir R$ 180 bilhões nos próximos anos — sendo R$ 130 bilhões destinados ao desenvolvimento e produção de veículos e R$ 50 bilhões ao parque de autopeças. Contudo, de acordo com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, esse montante poderá ser revisto se o pacote pró-China for aprovado.

Risco de retrocesso e perda de competitividade

Para os executivos, a importação incentivada de SKD e CKD não agrega avanço tecnológico nem inovação à indústria nacional. Pelo contrário, pode gerar “um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica”.

O ofício é assinado por Ciro Possobom (Volkswagen), Evandro Maggio (Toyota), Emanuele Cappellano (Stellantis) e Santiago Chamorro (General Motors). No documento, eles afirmam confiar na sensibilidade de Lula para “preservar a isonomia concorrencial e proteger a indústria e a produção no Brasil”.

Confira a carta na íntegra:

Excelentíssimo Senhor Presidente Lula,

Com nossos cumprimentos, vimos expor o teor de nossas preocupações quanto ao futuro da indústria automotiva brasileira.

O setor tem sido, desde os anos 1950, um importante vetor de industrialização e de crescimento econômico para o Brasil. Nasceu de uma visão desenvolvimentista, impulsionando com sua expansão um dos maiores e mais diversificados parques mundiais de fabricantes de veículos e autopeças.

A cadeia produtiva automotiva exibe números consistentes, que atestam o acerto da estratégia de localização da produção de veículos e seus componentes. São 26 fabricantes de veículos instalados no país e 508 produtores de autopeças, que formam uma cadeia produtiva responsável por 2,5% do PIB brasileiro, 20% do PIB industrial de transformação, pela geração de 1,3 milhão de empregos e por um faturamento anual de US$ 74,7 bilhões.

Nossa indústria planeja investir R$ 180 bilhões nos próximos anos, sendo R$ 130 bilhões no desenvolvimento e produção de veículos e outros R$ 50 bilhões no parque de autopeças.

Essa sólida cadeia industrial consolidou-se ao longo de mais de 70 anos de presença no Brasil. Sucessivas ondas de investimentos no decorrer desse período histórico enraizaram profundamente a capacidade industrial, tecnológica e de desenvolvimento de produtos e engenharia de nosso setor, impactando positivamente a economia e a sociedade. A industrialização urbanizou o pais, expandiu o mercado de trabalho, impulsionou a educação e a ciência, somou desenvolvimento econômico ao social. Além de resultar em uma base industrial como poucas no mundo, propiciou a consolidação da engenharia nacional.

É nosso dever alertar, Senhor Presidente, que esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional está sendo colocado em risco e sofrerá forte abato se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no país.

Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional e, consequentemente, o valor agregado e o nível de geração de empregos.

Por uma questão de isonomia e busca de competitividade, essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra. Seria uma forte involução, que em nada contribuiria para o nível tecnológico de nossa indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional. Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica.

Trazemos nossos argumentos à sua análise, Senhor Presidente, na expectativa de que seu governo assegure igualdade de condições na competição pelo mercado, vetando privilégios para a importação de veículos desmontados ou produzidos no exterior com subsídios. Confiamos na sensibilidade de Vossa Excelência para preservar a isonomia concorrencial e proteger a indústria que produz no Brasil.

Nossos investimentos em curso resultarão em novas plantas industriais, em mais empregos, valor agregado e em uma nova geração de veículos cada vez mais sustentáveis. Reafirmamos, desse modo concreto, nosso compromisso com o fortalecimento da indústria nacional e com o desenvolvimento econômico e social.

Atentamente,

Ciro Possobom, Volkswagen no Brasil

Evandro Maggio, Toyota do Brasil

Emanuele Cappellano, Stellantis Automóveis do Brasil

Santiago Chamorro, General Motors do Brasil

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