O cenário dos transplantes no Amazonas entrou em uma nova fase nesta segunda-feira (03/11). O Hospital Delphina Aziz, unidade da rede estadual, retomou os transplantes de fígado após uma década sem o procedimento na rede pública. O marco foi o primeiro transplante hepático realizado no sábado (1º/11), consolidando a unidade como o maior centro público de transplantes da Região Norte.
O balanço dos procedimentos foi apresentado pelo governador Wilson Lima, que destacou a complexidade da implantação do serviço. “Para implantar um serviço como esse é preciso toda uma preparação, de estrutura, de equipamentos, de equipes especializadas”, afirmou o governador, mencionando que o Delphina Aziz agora concentra transplantes de rim, fígado e implante coclear.

A retomada foi oficializada após o Hospital Delphina Aziz receber a habilitação do Ministério da Saúde em 9 de outubro deste ano. Com a autorização, a unidade da Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) tornou-se o primeiro hospital público do estado a atingir o patamar técnico necessário para este tipo de cirurgia nos últimos dez anos.
A megaoperação de transplantes no fim de semana
O primeiro transplante de fígado da nova fase ocorreu durante uma operação ininterrupta de 17 horas no hospital. No total, três transplantes foram realizados em um único dia: um de fígado e dois de rins.

Mais de 50 profissionais, entre médicos, enfermeiros e equipes de apoio, estiveram envolvidos. Os órgãos vieram de uma única doadora, uma mulher de 45 anos, vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC), cuja família autorizou a doação.
Segundo o coordenador estadual de transplantes, Marcos Lins, a cirurgia hepática foi concluída em tempo recorde para a região. “Conseguimos fazer todo o processo, da captação ao implante, em apenas quatro horas, quando o tempo médio é de oito. Foi um procedimento excelente, seguro e rápido”, destacou Lins.
A paciente que recebeu o fígado é natural do município de Ipixuna (a 1.367 quilômetros de Manaus). Diagnosticada com cirrose hepática, ela era acompanhada pela equipe do Delphina Aziz e, segundo o coordenador, recupera-se bem na UTI.
A nova estrutura
O último transplante de fígado realizado na rede pública estadual havia ocorrido há uma década. Entre 2014 e 2015, sete procedimentos do tipo foram feitos no Hospital Adriano Jorge, que posteriormente perdeu a habilitação para realizar as cirurgias.
O retorno do procedimento foi viabilizado pela modernização da infraestrutura hospitalar e capacitação das equipes no Delphina Aziz. O fortalecimento da Coordenação Estadual de Transplantes integrou instituições estratégicas, como o Laboratório Central (Lacen-AM/FVS-RCP), o Hemoam e a Organização de Procura de Órgãos (OPO), garantindo agilidade nos exames de compatibilidade e no suporte transfusional.
Os números gerais de transplantes no Amazonas
Embora o foco seja a retomada do transplante hepático, o Hospital Delphina Aziz já é uma referência em transplantes renais (rins) desde junho de 2023. A unidade soma 239 procedimentos de rim, sendo 113 com doador vivo e 126 com doador falecido.
Conforme os dados apresentados, em dois anos, o hospital público superou em 58% o número de transplantes renais realizados em 16 anos pela rede privada no estado.
Além dos rins e do fígado, o Amazonas também realiza transplantes de córnea, que somam 2.759 cirurgias entre 2003 e 2025. Desde 2023, o Delphina Aziz também realizou 84 cirurgias de implante coclear (ouvido biônico).
Fila de espera e o impacto para os pacientes
A retomada dos procedimentos complexos no estado impacta diretamente a vida dos pacientes que aguardam por um órgão. Atualmente, a fila de espera do Amazonas conta com 142 pacientes aguardando transplante de rim, 144 de córnea e quatro de fígado.
Tábata Nepomuceno, presidente do Instituto de Apoio e Assistência em Transplante do Estado do Amazonas (IAATAM) e transplantada renal desde 2015, destacou a importância de realizar o tratamento perto de casa. “Antes, muitos precisavam sair do estado e nem sempre voltavam com vida. Agora, ter esse serviço dentro do nosso estado, com acolhimento e perto da família, não tem preço”, afirmou.
A Secretaria de Estado de Saúde reforça que o sucesso do programa de transplantes no Amazonas depende fundamentalmente da autorização das famílias doadoras, incentivando a população a manifestar em vida o desejo de ser doador.
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